Para Lobão, rock declinou porque virou "coxinha": "te doutrinam a gostar de coisa de pobre"
Lobão está de volta. E com a bandeira do rock’n’roll ainda mais presente. Neste sábado (5), ele apresenta em São Paulo seu novo show com a banda Os Eremitas da Montanha, intitulado Antologia Politicamente Incorreta dos Anos 80 pelo Rock, em que homenageia grandes hits da história. Clássicos de Rita Lee, Lulu Santos, Legião Urbana, Capital Inicial, Cazuza, Inocentes e Paralamas do Sucesso, por exemplo, aparecem no setlist com uma nova roupagem. A tentativa aqui é clara: resgatar os bons tempos do gênero no cenário nacional.
“Rock virou coisa de coxinha, classe média, branco. Tem essa doutrina no Brasil de que você tem que gostar de coisas de pobre, funk, pouco letradas. A esquerda sempre foi contra o rock. Teve até aquela passeata contra a guitarra nos anos 1960. Se tem um governo com doutrinação na escola, você acha que não tem na cultura? O rock não tem vez. Mesmo assim tem uma cena acontecendo, tem gente fazendo. A classe foi muito desunida, eu fui muito responsável por isso (risos). Mas a hora é essa de retomar de maneira independente, soberana”, disse em entrevista ao Pânico.
O disco deve sair em CD, vinil duplo e nas plataformas digitais em junho. Além de hits dos colegas já citados, o show terá canções de seu próprio repertório a pedido dos fãs. Além disso, contará com uma novidade. Em cada cidade, a apresentação terá abertura de uma banda diferente, que será escolhida através de um concurso. Somente na capital paulista, mais de 100 artistas se inscreveram nos primeiros dias.
“A cena está reprimida, estamos botando o rock embaixo do tapete. Mas vimos com esses concursos que o rock autoral, mais criativo, está pipocando, sim, no país inteiro”, afirmou.
Por curiosidade, a bancada perguntou o que o músico pensa sobre a ascensão do pop e de nomes como Anitta e Pabllo Vittar. E, para a surpresa de todos, respondeu de maneira tranquila que não tem “nada contra”. Disse até mesmo que toparia fazer músicas com artistas como elas.
“Se eu pudesse produzí-los e colocar esteticamente um som que eu considerasse viável, tudo bem. Não tenho nada pessoal contra eles. Mas eles teriam que passar pelo meu crivo. Não para ‘virar’ rock necessariamente, faço qualquer tipo de música, erudita, sertaneja”, pontuou.
Já em relação a Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, como sempre, não poupou nas críticas. “Acho os três uns bostas. De toda a discografia do Chico tem uma música linda, aquela Pedaço de Mim. Caetano também é por aí. Mas não quero massacrar. Eles têm coisas boas. Acontece que são coroneis. Somos um país de coronel. Ninguém faz nada na música sem beijar o saco dos caras. O rock não, o movimento surgiu espontaneamente. Quando começou a crescer, eles que vieram se enturmar. A gente estava poderoso”, disparou.
Sua antiga militância (ou não) ao MST e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, suas opiniões sobre o prédio ocupado que desabou na capital, sua relação de amizade com Olavo de Carvalho e outros assuntos controversos também foram abordados durante a conversa. Todos os vídeos estão no canal do Pânico no YouTube.
O show de Lobão & Os Eremitas da Montanha de sábado em São Paulo acontece na Audio Club às 22h. Ingressos podem ser adquiridos pelo site Ticket360.
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