Parte da solução ou democracia instável? Kataguiri e Rubens Paiva discutem o impeachment e o cenário político

  • Por Jovem Pan
  • 06/05/2016 14h31
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Jovem Pan <p>Marcelo Rubens Paiva e Kim Kataguiri participaram de debate político no Pânico</p>

Discutiram sobre a crise política no País no Pânico no Rádio desta sexta (6) o jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva e o líder do MBL (Movimento Brasil Livre) Kim Kataguiri.

Contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, Rubens Paiva entende que essa não é a melhor solução para o país e defende a reforma política. Kim, que liderou grandes manifestações pedindo a saída de Dilma, também é a favor da reforma política, mas entende que a destituição da presidente parte da solução.

Para Paiva, o processo de impeachment “está tão enfraquecendo a democracia, que a gente não sabe sequer quem governará o país”. “A democracia brasileira é muito instável para você tirar um presidente por qualquer pedalada fiscal, qualquer problema econômico”, diz. O escritor reconhece “grandes erros” no governo Dilma, especialmente de sua política econômica. Em outro momento, questiona Kim: “Vocês não sabiam que se derrubasse a Dilma, ia assumir o Temer?”.

—related—Kim, por sua vez, entende que “o impeachment é parte essencial da solução”. Ele reconhece que “não existe solução mágica” e promete pressionar o governo Temer, mas avalia que “o governo Dilma está totalmente paralisado” e não consegue levar nenhuma reforma positiva à frente. “A gente não pode deixar que o presidente da república cometa crime de responsabilidade”, completa Kim. O manifestante entende que “o impeachment é muito mais vontade popular” e não acredita em “manipulação de grupos políticos do PMDB”, como vê Paiva.

Manifestações de 1964 x 2015/16

Rubens Paiva, que teve o pai morto durante a ditadura militar, vê muitas semelhanças entre o golpe de 1964 e o que está acontecendo agora no Brasil. “O cenário está confuso e a refomra política é urgente, pode surgir um partido mais fascista, que é um medo”, vê. O jornalista classifica as grandes manifestações na Avenida Paulista como “passeatas despolitizadas”, “de gente que quer mudar tudo”. “É muito problemático você mobilizar para derrubar um governo sem um projeto posterior”, opina.

Kim Kataguiri se irritou com a comparação e disse: “É uma ofensa comparar com as pessoas que saíram em 194 e falar em manipulação”. O líder do movimento pró-impeachment observa um “pensamento muito mais claro” nos atos de hoje em dia. “Aqui as pessoas se manifestam pelo meio democrático pelo qual o fim delas está sendo atingido”, afirma Kim em referência ao impeachment. Ele não vê despolitização das ruas. “esse tipo de argumentação é ofensivo para quem foi se manifestar”, contra-argumenta. “Existe uma corrente majoritária que sabem que os problemas do país não vão se resolver 100% com o governo Temer”, avalia.

Esquerda x Direita

Kim entende que o inchaço da máquina pública é um pensamento de esquerda. Mas, em sua visão, fazer isso “para colocar companheiros”, é algo que “está mais ligado ao PT”. O líder do MBL vê o partido da presidente Dilma “utiliza a corrupção como método de governo, para levar à frente um projeto de poder às custas do direito público”.

Mesmo assim, o jovem defende o bolsa família e um modelo de educação semelhante ao sueco, em que famílias mais pobres têm a opção de matricular seus filhos em escolas particulares às custas do governo.

Sob outra perspectiva, Marcelo avalia que o pensamento da esquerda acredita que o Estado deve intervir na economia para garantir o acesso dos pobres a direitos básicos e diminuir a desigualdade. Ele discorda do termo “Estado inchado” e questiona: “quando você diz que precisa de policial, quer uma justiça mais rápida (…), isso são funcionários do Estado”. “O paulista reclama, mas não vai consertar e limpar calçada”, continua Paiva. “Eu acho que o brasileiro paga pouquíssimo imposto”.

O escritor, filiado ao Partido Verde (PV), disse que não é petista nem votou em Dilma Rousseff nas últimas eleições, mas questiona quem defende apenas o “Fora PT”. “Parece a força do bem, parece a força do mal”. Ele lembra que há bons nomes na história do Partido dos Trabalhadores. “A minha mãe fundou o PT. Antonio Candido fundou o PT, Florestan Fernandes fundou o PT”. “Não me chame de petista, não me chame de bolivariano, não me mande ir para cuba”, pede.

Cuspe

Os convidados comentaram também os recentes episódios de cuspes na política – de Jean Wyllys em Jair Bolsonaro e do ator Zé de Abreu em pessoas que o xingavam em restaurante.

“A cusparada do Jean Willys eu achei um pouco excessiva”, disse Paiva, ressaltando os gritos homofóbicos que o deputado que defendeu a Ditadura teria feito no momento do voto do colega parlamentar paulista. Ele citou ainda outro caso de Bolsonaro, no momento em que um busto de seu pai, Rubens Paiva, era inaugurado. “Bolsonaro passava o tempo todo por trás das minhas irmãs falando comunista, absurdo.

Já sobre Zé de Abreu, Paiva disse: “Zé de Abreu deveria ter dado um tabefe”. E disse: “um idiota que está no restaurante e vê o zé de abreu passando não tem que xingar”. “Se o cara me xingar, xingar minha mulher (em lugar público), eu não vou cuspir, vou dar porrada”.

Já para Kim, o cuspe é o “símbolo do fascismo moderno”. Ele acredita que a atitude do deputado Jean Wyllys “dá margem para cassação” por ter ferido o decoro da Câmara.

Questionado, Kataguiri disse que, quando é xingado na rua, “manda beijinho”.

Concordância

Apesar de certas posições políticas diferentes, Kim Kataguiri e Marcelo Rubens Paiva defendem o voto distrital como um dos pontos necessários na reforma política brasileira.

Ouça o programa completo no áudio do começo do texto.

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