"Tenho orgulho dele como pai", diz filho de Pablo Escobar ao condenar séries que exaltam tráfico
Pablo Escobar se tornou um ícone pop do narcotráfico e, para muitos, é agora visto como uma celebridade. É isso o que acredita Juan Pablo Escobar, filho do traficante. Em passagem pelo Pânico na Rádio nesta quarta-feira (26), ele falou sobre como as séries sobre seu pai tem “glorificado” e glamourizado a violência.
“É importante que contem histórias sobre ele, mas se glorifica a atividade criminal”, defendeu. A seu ver, séries como “Narcos” e “El Patrón del Mal” influenciam adolescentes a seguirem os passos de Pablo Escobar.
“Recebo mensagens e fotos de jovens de todas as partes do mundo se vestindo como meu pai e querendo ser Pablo Escobar”, contou. “Ele se tornou um ícone pop”, afirmou.
Para Juan, as séries pecam também em outro ponto: “elas ocultam as verdades”. “Para mim são caricaturas do meu pai. O personagem dele não é real”, afirmou. “Não mostram a polícia torturando e matando as pessoas e essa era a realidade em que vivíamos”, disse.
“Na TV [nós, a família] estamos sempre desfrutando a todo tempo, mas nunca foi assim. Havia muito sofrimento. Havia dinheiro, mas passávamos fome”, acrescentou.
Juan afirmou que essa deturpação da história de Pablo não foi “por acaso”. Ele mesmo ofereceu à Netflix documentos, fotos e registros do pai para “Narcos”, mas a empresa não se interessou. “Ninguém tem coragem de fazer um filme ou série mais real porque teriam que enfrentar a CIA e a DEA”, concluiu.
Apesar das versões caricatas de Pablo Escobar, Juan afirmou que considera “Narcos” a série “menos pior” sobre seu pai.
O filho do narcotraficante lembrou ainda que tomou consciência de quem seu pai era aos 7 anos de idade. “Ele me disse: ‘eu sou um bandido e é a isso que eu me dedico’”, falou. “Naquela idade eu sabia o que significava, mas não conhecia a dimensão da organização criminal que ele dirigia”, disse.
Quando tomou conhecimento das crueldades e violências do pai, Juan passou a discutir com ele. “Muitas vezes pedi que ele não fizesse mais violências. Eu e minha mãe fizemos uma pressão familiar”, lembrou.
Apesar do lado cruel de Pablo Escobar, Juan afirmou que, como pai, ele sempre foi totalmente o oposto. “Ele nunca pediu que eu seguisse seus passos e me educou com valores humanos. Em casa ele era uma pessoa e fora era outra”, disse.
“Eu tenho orgulho da figura de pai, mas não sou orgulhoso de sua violência como pessoa”, declarou.
“Pablo Escobar: Em Flagrante”
Depois de lançar o livro “Pablo Escobar – Meu Pai: As Histórias que não Deveríamos Saber”, Juan Pablo Escobar escreveu uma 2ª publicação, intitulada “Pablo Escobar em Flagrante: “O Que Meu Pai Nunca Me Contou”.
Para o novo livro, ele viajou por 6 meses pela Colômbia buscando filhos e parentes dos inimigos de seu pai, entre eles, pessoas da CIA que Pablo mandou assassinar, e chefes da política de Cáli.
Ao falar sobre o encontro, Juan afirmou que foram momentos bem complicados. “Foi uma punhalada no estômago. Nada te prepara para isso”, falou. Ele ainda disse que teve medo, mas que foi melhor enfrentá-los de uma vez.
Juan também falou sobre outro mistério que cerca a vida de Pablo Escobar: seu dinheiro. “Sobrou muito, mas nós entregamos para a justiça e aos inimigos porque era tudo ilícito”, contou. Outra parte, o governo se recusou a entregar: “foi como se dissessem ‘não vamos te matar, mas vamos te condenar a ser pobre’”.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.