Pescados do litoral do ES podem ficar impróprios para consumo, diz especialista

  • Por Jovem Pan
  • 23/11/2015 08h31
Fred Loureiro /Secom ES Lama chega ao mar

 Lama com rejeitos de minério que vazou de barragem da mineradora Samarco chega ao oceano no Espírito Santo e ameaça reserva marinha.

Após o rompimento no dia 5 de novembro, os dejetos seguiram pelo rio Doce, afetando os municípios de Linhares, Baixo Guandu e Colatina. A Defesa Civil do Espírito Santo avalia que, nos próximos dias, Colatina poderá retomar a captação de água, que foi suspensa na quarta-feira (18/11).

A lama com tonalidade turva começou a desaguar na praia de Regência, na tarde de sábado (21/11), e já coloca em risco a Reserva Biológica de Comboios. A área de proteção no litoral capixaba é usada para a desova de tartarugas marinhas, inclusive por espécies ameaçadas de extinção.

Especialistas classificam a tragédia de Mariana, na região central de Minas Gerais, como o maior desastre ambiental do país. Em entrevista a Izilda Alves, o professor Marcus Vinícius Polignano, da Universidade Federal de Minas Gerais, descreve os possíveis danos ao oceano: “Com certeza uma faixa litorânea vai ser comprometida, porque esse sedimento vai para o fundo. Então evidentemente a vida marinha mais próxima da faixa litorânea vai ser danificada também”. O professor afirma que a contaminação do Rio Doce poderá inviabilizar o abastecimento por tempo indeterminado.

O coordenador do Laboratório de Poluição da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Saldiva, prevê efeitos, inclusive, para a pesca marinha: “O enriquecimento de metais pesados no litoral, vai fazer com que o plâncton seja contaminado. O plâncton será comido por microcrustáceos, que serão comido por peixes menores e os peixes menores por peixes maiores. Existe um processo de bioconcentração, que pode em último caso, tornar o pescado impróprio para a alimentação”. Paulo Saldiva diz que a USP tem dois laboratórios à disposição para ajudar na análise da água, para apontar se houve contaminação por metais pesados.

Especialistas e autoridades estimam que a recuperação do rio Doce e das áreas atingidas pela lama poderá demorar uma década. A Justiça do Espírito Santo mandou a mineradora Samarco retirar a barreira que impedia a chegada dos rejeitos ao oceano.

Técnicos e ambientalistas apontam que represar a lama pode ser pior do que liberar todo o volume no mar.

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