Pingo Final: Cunha rompe com governo nesta sexta (17)

  • Por Jovem Pan
  • 17/07/2015 11h14
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José Cruz/Agência Brasil Presidente da Câmara dos Deputados

O meu pingo final vai para uma pergunta: Dilma ficou mais perto ou mais longe do impeachment? Na segunda, entrevistamos Eduardo Cunha no programa “Os Pingos nos Is”, que ancoro na Jovem Pan. Ao microfone e longe dele, deixou claro que estava à espera de, vamos dizer, um evento sensacional contra ele. Já sabia que Júlio Camargo, da Toyo Setal, que havia negado que lhe tivesse repassado propina, teria decidido mudar a versão. Em nota, o deputado atribuiu a mudança à pressão exercida pela Procuradoria Geral da República. E personalizou a autoria: para ele, foi coisa de Rodrigo Janot, sob os auspícios do Planalto. Por isso, o deputado deve anunciar nesta sexta o seu rompimento com o governo.

Depois que a acusação de Camargo veio a público, ele se encontrou com Michel Temer, vice-presidente da República e presidente do PMDB, e com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado — também ele alvo de uma acusação feita por Paulo Roberto Costa na segunda, igualmente em depoimento a Sérgio Moro. Renan, que tem andado às turras com o Planalto — embora com uma agenda diferente da de Cunha —, afirmou que o país vive uma crise institucional.

Dilma fica mais longe ou mais perto do impeachment?, querem saber alguns. É evidente que fica mais longe. Ainda que, vá lá, possamos imaginar que seria maior hoje a disposição subjetiva de Cunha de fazer andar uma denúncia contra a presidente, é preciso convir que uma acusação como a que foi feita tende a assustar os aliados menos convictos do presidente da Câmara.

Mais: com pesadas acusações contra os respectivos presidentes das duas Casas, o Parlamento se afigura um lugar menos sóbrio e confiável como âncora da estabilidade em caso de uma crise mais aguda. Dado o particularíssimo equilíbrio entre os Poderes no Brasil, sempre que o Parlamento se fragiliza, o Executivo sai fortalecido.

A questão relevante hoje, no entanto, é esta: “fortalecido” para quê? Como o próprio Cunha indagou na segunda, aos “Pingos”, qual é a agenda de Dilma para os próximos três anos e meio? Ninguém sabe. Nem ela. Nem o PT. Fortalece-se, aos menos temporariamente, uma presidente para nada.

As bombas estouram num momento em que não está concluída nem mesmo a votação de todas as medidas do chamado ajuste fiscal. Se Cunha pode perder, vamos dizer assim, soldados menos convictos, isso não quer dizer, no entanto, que Dilma terá tranquilidade para governar. Pode até se sentir um pouco mais firme no cargo. Mas como é que ela volta ao comando? Essa resposta ainda não existe.

O governo já pode dar como certa a instalação das CPIs do BNDES e dos fundos de pensão. Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, citado na delação de Ricardo Pessoa como destinatário de uma doação ilegal de R$ 250 mil, em dinheiro vivo, deve ser chamado a depor na CPI da Petrobras. Edinho Silva é outro que voltou a frequentar a lista de intenções de muita gente. Segundo Pessoa, o agora ministro da Comunicação Social lhe pediu contribuição de campanha lembrando os muitos contratos que mantinha com a Petrobras.

Dilma pode se sentir um pouco mais segura quanto ao risco de ter de afastar, mas a governança, meus caros, vai piorar. Exceção feita aos petistas e às esquerdas, que estão vibrando, os parlamentares acham que estão se transformando no bode expiatório, “enquanto ela faz de conta que não tem nada com isso”, me disse um deputado que não é do PMDB. “Ela”, evidentemente, é Dilma.

Ou por outra: Dilma pode se sentir um pouquinho mais segura no cargo, mas a governabilidade vai degenerar. Ainda que Cunha venha a perder alguns soldados, permanece forte o bastante. A presidente tem mais três anos e meio de mandato sem agenda. Salvo um contratempo que os obrigue a renunciar ao cargo — os respectivos presidentes da Câmara e do Senado têm um ano e meio pela frente no comando das duas Casas.

Para arremate dos males, é evidente que o trabalho de coordenação política de Michel Temer, que também preside o PMDB, será bastante prejudicado. Duas das principais figuras do partido, que exercem liderança inequívoca entre os pares, veem o dedo do Planalto nas acusações. A situação ficou bem mais tensa.

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