Por causa de Brexit, disputa pela península de Gibraltar volta à pauta
Ainda não completou uma semana desde que o Reino Unido informou formalmente a União Europeia de que pretende deixar o bloco e as ameaças de guerra no continente já começaram a aparecer.
Pode soar como uma declaração sensacionalista da minha parte, mas basta ler os jornais britânicos de hoje para perceber que o assunto é sério, está em todos os diários londrinos, dos mais diversos vieses, desde o conservador Daily Telegraph, passando pelo financeiro Financial Times até o esquerdista The Guardian.
A história toda envolve a península de Gibraltar, no extremo-sul da Espanha, que é reivindicada pelo governo de Madri, mas pertence à coroa britânica.
A tensão entre os dois países por causa do território é antiga e permanente, meses atrás ela já tinha se acentuado novamente e voltou à pauta agora por causa do Brexit.
Na sexta-feira a União Europeia declarou que os acordos sobre o Brexit não seriam automaticamente aplicados à Gibraltar sem a anuência da Espanha, o que pegou o governo britânico de surpresa.
A leitura feita por aqui foi de que os espanhóis tentariam se aproveitar do momento para recapturar o controle sobre o Rochedo, que tem cerca de 30 mil residentes e é um território ultramarino britânico desde 1713.
Se vocês já fizeram associação dessa crise diplomática com o caso das Ilhas Malvinas, vocês estão corretos. A situação ficou ainda mais tensa neste domingo (02) quando o ex-líder do partido conservador Michael Howard deu uma entrevista para o canal Sky News afirmando que a atual primeira-ministra Theresa May poderia declarar guerra contra a Espanha para defender o território de Gibraltar.
Howard disse que 35 anos atrás uma outra primeira-ministra enviou as forças armadas para proteger uma outra pequena comunidade britânica de um outro país hispanófono. E que com certeza a atual primeira-ministra mostraria a mesma determinação para defender o povo de Gibraltar.
Para colocar mais lenha na fogueira, o ministro da defesa britânico, Michael Fallon, declarou que o Reino Unido vai proteger o povo de Gibraltar custe o que custar.
O Telegraph chegou inclusive a fazer um artigo comparando o poderio bélico atual em relação à década de 1980. A conclusão é que hoje as forças armadas britânicas são bem menos poderosas, mas ainda assim seriam o suficiente para esmagar os espanhóis.
Não há nenhuma indicação no momento de que o governo de Madrid seria capaz de um gesto tresloucado como a Junta Militar argentina. A única provocação mais forte vinda da Península Ibérica foi o governo local afirmando que não se oporia à filiação da Escócia na União Europeia caso o país de fato se separe do Reino Unido.
Enfim, como temos repetido nos últimos dias, esse é só o começo do divórcio europeu. Ainda tem muita baixaria pela frente nos próximos meses. Mas a estabilidade do continente foi desafiada e ninguém deve menosprezar as consequências do que está por vir.
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