Redução em casos de gravidez na adolescência não reflete avanço na prevenção
Entre os anos de 2004 e 2015 o Brasil registrou uma queda de 17% no número de gravidez na adolescência. De acordo com dados, divulgados pelo Ministério da Saúde, nesta quarta-feira (10), foram 661 mil partos em 2004, passando para 546 mil em 2015.
No entanto, se olharmos para dados mais recentes este avanço não existe. É que entre os anos de 2007 e 2016, o número de mães adolescentes no Brasil se mantém no mesmo patamar:
Em média, 21% dos bebês que nascem a cada ano são filhos de mães que têm menos de 20 anos de idade. Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, entre 2007 e 2016, esta taxa caiu 44%.
Mas o que nos leva a índices tão elevados em que um a cada a cada cinco bebês nascidos por ano é filho de uma adolescente?
Dagmar Garroux, ou, Tia Dag, está à frente de uma ONG no Capão Redondo, região periférica da Zona Sul da capital Paulista. Na Casa do Zezinho, ela conhece bem a realidade das adolescentes que estão mais suscetíveis a uma gestação precoce.
Para ela, que vive este cotidiano, um aspecto chama atenção dentro das políticas públicas.
Não dá para trabalhar conscientização, desenvolver campanhas sem conhecer os fatores que, de fato, envolvem uma gravidez antecipada: “as políticas públicas para isso parece que estão falando para esse público. Não atinge esse público. É um desconhecimento muito grande do Governo dessa população, de como eles pensam, de como eles falam. Essas jovens de periferia que ficam grávidas na adolescência se tornam rainhas. Ela é reconhecida, está grávida, todo mundo trata bem, ninguém vai agredir”.
Outro aspecto que dificulta a efetividade das políticas públicas está na qualidade dos investimentos feitos neste setor.
Na Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte de São Paulo, existe um programa para orientar as mães que dão à luz a escolher métodos anticoncepcionais de longa duração, já que as adolescentes tendem a ter um uso mais desregrado da pílula anticoncepcional.
A alternativa nesta maternidade é colocar um método mais moderno, um implante usado abaixo da pele do braço, que dura três anos e tem menos efeitos colaterais.
No entanto, o coordenador do programa, obstetra Geraldo de Nadai, disse que as opções que chegam pelo ministério da saúde, são alternativas mais baratas, que nem sempre se adequam às pacientes: “o que tem no Ministério é a pílula antiga, dos anos 70”.
Diretora do Departamento Responsável por esta prevenção no ministério da Saúde, Thereza de Lamare, afirmou que a pasta já estuda ampliar o leque de opções contraceptivas. “É um direito de qualquer mulher ela escolher qual o melhor método. Essa é uma discussão para todas as mulheres, a proposta de levar à comissão de incorporação tecnológica é nesse sentido, de como seria o processo dentro do SUS”, disse.
Enquanto isso, o coordenador do Programa de Controle de Natalidade da Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, Geraldo de Nadai, contou que na sua prática médica, cerca de 40% das adolescentes que dão à luz por lá, voltam para ter outro bebê.
*Informações da repórter Helen Braun
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.