Revestimento inflamável era usado para “sofisticar” prédios populares em Londres

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan Londres
  • 22/06/2017 14h10
WOL034. London (United Kingdom), 18/06/2017.- The remains of cladding on the outside of Grenfell Tower, a 24-storey apartment block in North Kensington, London, Britain, 18 June 2017. Search and Rescue efforts are continuing to sift through the burnt out remains of the tower. At least 58 people are now missing and presumed dead in the Grenfell Tower disaster, police have said. This latest figure includes the 30 already confirmed to have died in the fire.The cause of the fire is yet not known. (Londres, Incendio) EFE/EPA/WILL OLIVER EFE/EPA/WILL OLIVER Restos de cladding no exterior da Grenfell Tower

Ainda não se sabe exatamente o que causou o incêndio na Grenfell Tower que deixou ao menos 79 mortos no oeste de Londres semana passada.

Mas já está praticamente claro que o revestimento instalado no prédio ajudou muito a tornar o fogo incontrolável rapidamente.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, revelou nesta quinta-feira (22) no Parlamento que vários testes estão sendo realizados com o material, que é uma espécie de sanduíche de placas de alumínio com um recheio de plástico. E esses testes comprovaram que o revestimento, aqui conhecido como cladding, é sim bastante inflamável.

O pior é que segundo as contas do governo, outras 600 torres em toda a Inglaterra tiveram o mesmo material instalado em suas fachadas nos últimos anos. Logo, imaginem o que está sendo dormir num quarto em que da janela é possível ver esse pavio decorativo.

A prefeitura distrital de Camden, uma das regiões mais famosas de Londres, já avisou que vai remover imediatamente o revestimento de cinco torres de sua região.

Os prédios que tiveram esse tipo de material instalado aqui na Inglaterra são em grande parte construções dedicadas à moradia social. Só pra dar um pouco de contexto histórico, depois da Segunda Guerra Mundial, quando o país estava arrasado pelos bombardeios do Hitler, o governo britânico aproveitou a ocasião de profunda crise para acabar com um problema antigo, principalmente em Londres, que eram os cortiços.

Então por isso foram construídas essas grandes torres espalhadas em diversos bairros, até mesmo os mais ricos como o de Kensington, onde fica a Grenfell Tower. Esses apartamentos foram dedicados para as famílias que não tinham condições de pagar para morar. E a situação continua mais ou menos assim até hoje.

Nos últimos anos, muitos desses prédios passaram por reformas estruturais e, principalmente, estéticas no que muita gente considera como uma resposta das autoridades de regiões ricas ao processo conhecido como gentrificação, que é fortíssimo aqui em Londres. Porque o cladding, em tese, deixa as torres populares com uma cara mais “sofisticada”, vamos dizer assim.

Só que o preço pra isso foi muito caro. Dezenas de mortos é o pior de tudo, mas ainda ficam para o balanço as dezenas de famílias que terão que ser realojadas, o custo de se remover esse cladding de 600 prédios e o preço para encontrar residências sociais novas, sendo que o país já vive uma crise de moradia grave, sobretudo em Londres.

Pra tentar acalmar os ânimos, o governo anunciou ter comprado 68 apartamentos ali no bairro do incêndio mesmo que serão destinados às vítimas da tragédia.

O custo não foi revelado, mas esses apartamentos estavam disponíveis no mercado em um empreendimento de alto padrão em que as unidades de um dormitório custam a partir de 1,6 milhão de libras, ou o equivalente a R$ 6,7 milhões.

Logo, dá pra ver que a conta financeira dessa tragédia também vai ser muito pesada para a Inglaterra.

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