Se o PT grita “Fora Cunha”, Cunha grita “Fora PT”

  • Por Jovem Pan
  • 15/06/2015 09h32
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, durante reunião da Mesa Diretora (Marcelo Camargo/Agência Brasil) Marcelo Camargo/Agência Brasil Eduardo Cunha

Reinaldo, que história é essa de noiva cadáver em 2018?

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, concedeu uma entrevista ao Estadão neste domingo. Fez algumas afirmações que dão o que pensar, a saber:

1: “O PMDB dificilmente repetirá a aliança com o PT. Este modelo está esgotado”; 2: “Vejo nitidamente que há uma tentativa de sabotagem ao PT ao Michel [Temer] dentro da articulação”; 3: “Qualquer tentativa de sabotagem do Michel acabará em ruptura”; 4: “Michel não é candidato a presidente da República. Se o fosse, poderia ter o apoio de todo mundo do partido, mas não é”; 5: “Até acho que vão sentir saudades de mim depois que eu sair.”

Então vamos ver. Até onde a vista alcança, também não vejo o PMDB repetindo a aliança de agora. Em 2018, o casamento com o PT não deve mais ser atraente. O partido dos companheiros estará mais para noiva-cadáver. Parece-me bastante possível que o PMDB tente um voo próprio — ou, hipótese que considero superior à repetição da aliança de agora, pode integrar uma frente anti-PT. Os próprios petistas deixam claro que esse casamento não terá um terceiro tempo.

O partido decidiu manter o aceno ao PMDB em seu congresso encerrado neste domingo, conservando a sua atual política de alianças, mas dirigentes petistas gritavam “Fora Cunha!” enquanto o tema era debatido. À sua maneira, Cunha grita “Fora PT!”.

O presidente da Câmara aponta algo que Temer, dado o seu estilo, negaria de pés juntos, mas que é fato: há movimentos claros no PT para sabotar o seu trabalho, embora, e isto parece piada, ele seja obrigado a atuar para unir até as respectivas bancadas petistas na Câmara e no Senado. É fato que a petezada não se conforma com o protagonismo do vice na área política e se sente menos dona do governo do que gostaria.

Temer não repetiria certamente as palavras de Cunha, mas duvido que este tenha falado sem o aval, nem que seja pelo silêncio, daquele: uma ação explícita para desestabilizar o trabalho do coordenador político poderia ser respondida com o rompimento do PMDB com o governo. Parece improvável? Até parece. Mas aí também é preciso ver o tamanho do agravo.

O vice-presidente, de fato, não reivindicou a função; ela lhe foi mais ou menos imposta por Dilma na expectativa de que isso tornaria Cunha e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, reféns do Planalto. Temer explicou à interlocutora, à época, que as coisas não funcionam bem assim no partido, mas ela também estava sem escolha, e ele conferiu alguma ordem a uma área que era a casa da mãe joana.

Cunha afirma que Temer não é candidato à Presidência. Bem, acho que é. Não porque eu saiba o que o presidente da Câmara ainda não sabe, mas porque tal afirmação é incompatível com a realidade dos fatos: o vice ainda é o homem que concilia as várias correntes do partido, e o coordenador político do governo consegue ao menos amainar crises. Se o PMDB decidir mesmo ter candidatura própria, é evidente que haverão de perguntar a Temer se quer ou não — então é, sim, pré-candidato ao menos.

Com alguma ironia, Cunha diz que vão sentir a sua falta quando deixar a presidência da Câmara. E fez tal afirmação depois de negar que pretenda a reeleição. Não sei os outros. Eu vou. Nem tanto por causa do que ele pensa, mas em razão da sua operosidade. Há muito não se via uma Casa tão ativa, o que, como se nota, enche as esquerdas de ódio. Estavam acostumadas a um país que, havia 12 anos, amarrava-se à sua pauta imobilista.

Goste-se ou não das posições de Cunha, ele fez pelo debate democrático no Congresso o que há muitos anos não se fazia. Não por acaso, tornou-se o alvo principal dos dinossauros vermelhos. O que, parece-me, evidencia que, de fato, o PMDB não tem mais como andar junto com o PT. Esse casamento entrou, tudo indica, na sua etapa final. Melhor para o país.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.