Sugerir que Dilma renuncie é ato de amor

“A nação aguarda de forma atenta todos os desfechos dessas demandas do campo da justiça. E, para que o Brasil tenha seu sofrimento abreviado, renuncie, Dilma Rousseff”
A exortação foi feita pelo líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), nesta quarta. Leitores me perguntam se concordo. Bem, meus caros, a renúncia é um ato unilateral. Agora, se vocês querem saber se endosso a exortação, sim, eu a endosso. Até porque fiz exatamente isso no sábado, quando publiquei aqui uma síntese da reportagem da mais recente edição de VEJA, que traz o conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa. Aconselhei a presidente: “Renuncie, Dilma! Faça ao menos um bem ao Brasil. Ou aguarde o impeachment, o que vai custar mais caro aos pobres”.
E sabem por que eu acho que seria o melhor para o Brasil? Porque, com efeito, a economia vai muito mal, mas a crise política e a falta de liderança tornam tudo muito pior, não é? Vejam o caso do reajuste dos servidores do Judiciário. Só foi aprovado no Senado porque, na prática, a Presidência está vaga. Pior: no dia em que se votou aquele despropósito, ninguém menos do que Lula havia feito proselitismo entre senadores. Vale dizer: a presidente é fraca, e seu antecessor lhe faz sombra, embora seja hoje um líder em decadência. A simples substituição de Dilma já representaria um sopro de esperança.
Mas substituição por quem? Ora, pelo vice-presidente, Michel Temer.
Sim, há renúncias que podem agravar crises polítiaos, como aconteceu com a de Jânio Quadros, em 1961. Mas elas também podem ser a solução — e a de Dilma seria. Pelo caminho da denúncia em favor do impeachment, vimos um presidente mais popular do que Dilma (!!!), ser deposto. E o país melhorou, não é mesmo?
Espero que ninguém chame de “golpe” um conselho para que alguém renuncie, né? Aliás, qualquer dos três caminhos possíveis e hoje, de algum modo, abertos para Dilma ser deposta é legítimo: Lei 1.079 (crime de responsabilidade); Artigo 359 do Código Penal (lambança com as contas públicas) ou Justiça Eleitoral. A renúncia abreviaria sofrimentos. Mas isso é mesmo com ela.
Nesta quarta, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, ironizou os apenas 9% de ótimo e bom colhidos por Dilma na pesquisa CNI-Ibope: “Isso é o que temos no Brasil hoje: uma inflação que caminha para ser maior do que a popularidade da Presidente da República”.
E olhem que Aécio tem razão. O IPCA de 12 meses em maio ficou em 8,47%. A projeção do Boletim Focus para junho é de 0,72%. Ou por outra: a inflação vai acabar ganhando da popularidade de Dilma…
Nesse cenário, sugerir a renúncia, longe ser uma postura agressiva, não deixa de ser um ato de amor.
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