A trajetória de Michel Temer
Um homem discreto e avesso aos holofotes até certo ponto. Michel Miguel Temer Elias Temer Lulia é o primeiro paulista a assumir a presidência da República desde 1906. O advogado e professor de direito de 75 anos se considera um constitucionalista diferenciado.
Em 88, o Brasil ganhava uma nova Constituição pelas mãos de Ulisses Guimarães e, 32 anos antes, Michel Temer, filho de imigrantes libaneses, nascido em Tietê, deixava o interior paulista para estudar e entrar na carreira de direito.
Michel Temer se envolveu na política estudantil no largo São Francisco e participou de grupos de oposição à ditadura. Nos anos 60 e 70, exerceu a profissão como advogado trabalhista e virou procurador do Estado, na década de 80: “Tenho liberdade de expressão, tenho pão sobre a mesa, mas quero eficiência nos serviços públicos e na atividade política”.
O Brasil do regime militar começava a respirar os ares da abertura política e Michel Temer se filiou ao PMDB. Em 1983, foi nomeado pelo governador Franco Montoro para a Procuradoria-Geral e depois a assumiu a segurança pública pela primeira vez. O presidente em exercício sempre fez questão de exaltar a democracia: “Surge uma fase da democracia que eu chamo de democracia eficiente. A exigência é pela eficiência da democracia”. Em 86, ficou na suplência como deputado federal, mas conseguiu participar da Assembleia Constituinte e em 90, também não foi titular da vaga na Câmara.
Em 1992, o governador Antônio Fleury tentava justificar a ação da polícia no episódio do massacre do Carandiru. Michel Temer era Procurador Geral e foi chamado às pressas para a Segurança Pública em uma tentativa de apagar o incêndio.
Temer tinha um bom trânsito nos bastidores da política e, já como deputado federal, em 95, liderou o PMDB na Câmara: “Legislativo, executivo e judiciário hão de atuar em perfeita harmonia. Acima de qualquer divergência está o interesse do País”.
Com o apoio do então presidente Fernando Henrique, ele comandou a casa por duas vezes na era tucana: “Aqui, na Câmara dos Deputados, para que possamos formular ideias que elevem o País a enfrentar qualquer espécie de crise”.
Em 2001, Michel Temer foi eleito presidente Nacional do PMDB e, já no segundo mandato de Lula, apoiou o governo e voltou a comandar a Câmara. O partido ficou conhecido pelo fisiologismo e caciques como Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Romero Jucá foram envolvidos em denúncias de corrupção.
Apesar dos elogios, o leal Michel Temer nunca foi o nome dos sonhos de Dilma Rousseff para compor a chapa nas eleições de 2010 e 2014. Os anos foram passando e ele sempre se sentiu um “vice decorativo”, termo usado por ele em uma carta escrita a Dilma: “Combinamos, eu e a presidenta Dilma, que teremos um relacionamento pessoal institucional que seja o mais fértil possível”.
Em meio ao agravamento da crise, em 2016, o PMDB rompeu com o governo e uma gravação de Michel Temer comprovou o distanciamento com Dilma: “Quando a Câmara dos Deputados decide, por uma votação significativa, declarar a autorização para a instauração de um processo de impedimento contra a presidente, muitos me procuraram para que eu desse uma palavra preliminar à nação brasileira”.
Um áudio do vice vazou para o mundo político. Michel Temer ensaiava o discurso como se o impeachment na Câmara já tivesse sido votado. Dando tempo ao tempo, o Senado aprovou o afastamento de Dilma Rousseff por 180 dias.
Michel Temer terá de superar desconfianças, além das citações em escândalos investigados pela Operação Lava Jato. Com o afastamento de Dilma, ele assume o governo com uma difícil missão: corrigir os rumos no País: “É preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos. Caso contrário, podemos entrar em uma crise desagradável para o País”.
Reportagem: Thiago Uberreich
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