Vírus zika, além da microcefalia, aumentou a ocorrência de outras anomalias cerebrais

  • Por Jovem Pan
  • 16/05/2016 12h56
O Ministério da Saúde confirmou a terceira morte provocada pelo zika em adultos no Brasil. Foto: Fernanda Carvalho/ FotosP Públicas Fernanda Carvalho / Fotos Públicas Aedes aegypti

  Segundo pesquisadores da Universidade de São Paulo, o vírus da zika não só foi o responsável pelo surto de microcefalia no País como também causa outras anomalias cerebrais. É a primeira vez que essa relação é comprovada por métodos científicos, apesar da OMS já ter oficializado sua existência.

O trabalho, publicado pela revista Nature, mostra que o vírus definitivamente mutou. A variedade que circula no Brasil e em países da Ásia é bem mais agressivo do que o tipo africano, o primeiro encontrado. Apontou também que o zika não só inibe a formação das células que darão origem aos neurônios como faz com que elas fiquem ainda menores. Outro levantamento da revista é que o vírus prefere atacar estruturas do cérebro, sejam elas de um feto ou de um adulto.

Essa descoberta é bastante preocupante porque abre a discussão de hipóteses ainda nebulosas, como explica a neurocientista Patrícia Beltrão Braga: “Pode acontecer em qualquer fase da gravidez e pode acontecer em adultos. A gente não sabe quais seriam as consequências, mas como esse vírus tem entropismo do sistema nervoso, nos faz levantar uma bandeira vermelha para prestar atenção nisso também”.

A pesquisa também confirmou que o vírus consegue atravessar a placenta e chegar ao bebê. No entanto, uma linhagem de camundongos usada no teste se mostrou geneticamente resistente ao zika. A partir disso, se presume que exista algum fator de proteção da mãe que blinda o feto. O imunologista Jean Pierre Perroni quer descobrir agora qual substância é essa para, quem sabe, evitar novos casos: “É muita coisa para se descobrir agora, toda a parte de resposta imune da mãe, tanto sistêmica quanto placentária. É importante para tentar elucidar os mecanismos para evitar que o vírus passe”.

Para o coordenador da Rede Zika, que reúne diversas faculdades e instituições em busca de respostas sobre o vírus, Paolo Zanotto, a descoberta da USP dará ferramentas a cientistas de todo o planeta: “Temos um sistema extremamente sofisticado graças ao trabalho deles, que pode ser utilizado para testar o impacto de fármacos, vacinas e terapias utilizando imunidade. Um grande passo foi dado aqui”.

Apesar da microcefalia ser o efeito mais difundido da infecção em bebês ainda não nascidos, os cientistas são unânimes em destacar que o vírus também ataca outros órgãos, afetando o desenvolvimento de diversas partes do corpo. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 1.326 casos confirmados de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso. E há outros 3.433 casos que ainda estão sendo investigados.

Reportagem: Carolina Ercolin

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