Zika na Colômbia: cresce o número de abortos no país

  • Por Jovem Pan
  • 11/04/2016 13h02
Pequena Manuelly EFE/ Antonio Lacerda Imagens de zika

 Com mais de 60 mil infectados, a Colômbia é, ao lado Brasil, um dos países mais atingidos pelo surto do vírus zika no mundo. O número de gravidas infectadas chega a 11 mil, mas a pouca incidência de microcefalia em bebês causa estranheza e pode indicar um novo surto, que é o de abortos.

Beatriz Gomes, de 25 anos, está grávida de quatro meses e nas primeiras semanas de gestação pegou zika. No consultório, junto com o diagnóstico, o médico despejou uma solução rápida para o “possível problema” da garota: o aborto. Procedimento que, após a epidemia no país, ganhou outro um nome do Governo colombiano e, ao menos para a estudante, não soou menos cruel substituir a palavra aborto pela expressão “interrupção de gravidez”. E a resposta dela foi não, mesmo sabendo que o bebê poderia nascer com a microcefalia e mesmo sendo legal o aborto em seu país. Segundo ela, não houve pressão médica, mas Beatriz se incomodou com a pergunta porque é frontalmente contra a eugenia, e acredita, sobretudo, em Deus.

Outra jovem, a professora Karen Calderón foi diagnosticada com zika quando estava no 5º mês de gravidez. Na periferia de Bogotá, ela diz que chega pouca informação sobre a microcefalia, mas confirma que há abortos. A maioria só sabe que é algo ruim. As leis colombianas autorizam o aborto em três situações: quando a gravidez é resultado de um estupro, se o bebê sofre de uma doença congênita ou se põe em risco a saúde da mãe. Mas, no início da gestação, nenhum exame é capaz de afirmar com segurança se o feto nascerá com a microcefalia. O diagnóstico só é preciso quando o bebê está grande, formado.

Logo, a mulher precisaria esperar até a reta final da gravidez para tomar a decisão respaldada pela legislação. No entanto, o vice-ministro da saúde, Fernando Gómez Ruiz, inclui outro cenário, que tem justificado o procedimento no país: a “saúde psicológica” da mulher. Neste caso, a prova é dispensada. Segundo a autoridade em saúde, não há dados que comprovem a relação entre o número pequeno de bebês com microcefalia na Colômbia, sete até agora, com o crescimento dos abortos. Mas, Fernando Gómez Ruiz também não descarta a hipótese.

Outro fator importante: o primeiro diagnóstico oficial de zika no país aconteceu em 16 de outubro passado. Pela lógica, apenas em junho / julho é que devem nascer os primeiros bebês colombianos concebidos dentro do período de surto. Exceto os prematuros. A partir das estatísticas brasileiras, o país prevê o nascimento de até 600 crianças com microcefalia em 2016. Aqui já são mais de 1000. E ainda estamos em abril.

Estudos realizados em parceria com o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos estão mapeando a agressividade e as características do vírus que circula na Colômbia. Inclusive sua associação com a microcefalia e a Síndrome de Guillain-Barré. A doença que causa paralisia é muito mais comum no país latino-americano. Os primeiros resultados saem no fim do ano.

Enquanto isso, na opinião do presidente da Sociedade brasileira de Dengue e Arboviroses, Artur Timerman, a epidemia deveria ser combatida com saneamento básico. A falta dele influencia diretamente na proliferação do Aedes aegypt: “Tem que se enfatizar a sua correlação com saneamento básico, cidades impermeabilizadas e redução de áreas verdes são os fatores que propiciaram a presença do Aedes e tornaram sua erradicação praticamente impraticável nos países de clima tropical”.

Na segunda parte da série de reportagens especiais entenda como a Colômbia enfrenta outra doença relacionada ao vírus zika: a Síndrome de Guillain-Barré.

Reportagem: Carolina Ercolin

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