Zika na Colômbia: diferentes manifestações de um mesmo vírus

  • Por Jovem Pan
  • 13/04/2016 07h40
Cynthia Goldsmith/ CDC Zika visto no microscópio

 Fatores genéticos e ambientais podem explicar porque o zika faz vítimas tão diferentes em nações tão próximas como Brasil e Colômbia. A Organização Mundial da Saúde afirma que o vírus, presente em 61 países, está muito mais presente nas Américas. Na segunda nação mais infectada do planeta, o salto de 60% dos casos da Síndrome de Guillain-Barré assusta mais do que a microcefalia em bebês.

A maioria das vezes, a Síndrome de Guillain-Barré acomete idosos. Mas na casa da doméstica Alina Fernandez, de 36 anos, foi ela o alvo da paralisia associada ao vírus zika. Assim que se recuperou da dormência da perna e do rosto, Alina tem se dedicado a sessões de fisioterapia diárias. Para isso, abandonou o emprego e, há 4 meses, voltou a ser sustentada pelos pais, já que não recebeu nenhum apoio do governo.

A oposição também classifica as autoridades de saúde como negligentes e omissas. Um exemplo é Santander, região pobre fronteiriça com a Venezuela que concentra 30% dos casos de zika do país. Mas outras doenças transmitidas por mosquitos, como dengue, febre amarela, malária e chikungunya também estão se espalhando rapidamente, segundo o senador Jorge Iván Ospina. O político, que também é médico, explica que só recentemente o Governo colombiano intensificou as ações de combate ao Aedes aegypti.

A semelhança com o Brasil aparece na quantidade de “zancudos”, os mosquitos, e no mau uso do dinheiro público. A corrupção também atrapalha a gestão da crise sanitária na Colômbia, aponta o senador: “Em alguns territórios são mal gastos os recursos, há corrupção, e fica um problema grave e enorme na saúde”.

O professor de neurologia da Universidade de Santander, Marco Fonseca Gonzalvez, reforça a desconfiança sobre os números oficiais de infectados, que já chega aos 60 mil. Na prática, isso enfraquece as ações. No país vizinho, o número de casos de Guillain-Barré é 12 vezes maior do que o de microcefalia. Um fato intrigante que começa a ser desvendado.

O que se sabe até agora, graças a um trabalho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é que o zika que circula no Brasil sofreu uma mutação. Ele é diferente do que foi descoberto África, na década 40. A evolução o deixou mais agressivo.

Segundo um dos autores do trabalho, o virologista Amilcar Tanuri, a carga genética de cada povo pode explicar boa parte do enigma: “O que pode estar acontecendo é que o vírus ,espalhado em diferentes populações, tem taxas de transmissão vertical diferentes, pode ter uma taxa menor na Colômbia e maior no Brasil. Tem que descobrir quais fatores estão aumentando essa taxa”.

Controlar a epidemia de zika na Colômbia e no Brasil é importante para evitar uma pandemia mundial. Mas a tarefa está longe de ser cumprida, sentencia o senador Jorge Ospina ao citar o aquecimento global e a pobreza como grandes desafios. O vice-ministro da Saúde colombiano, Fernando Ruiz, adota um discurso mais animador. Lembra que parte da população contaminada neste ano estará imune ao zika no próximo verão. É uma esperança.

Reportagem: Carolina Ercolin

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