Impacto das doenças reumatológicas na qualidade de vida
Apesar de crônicas, as patologias reumatológicas atualmente podem ser bem controladas por meio de terapias farmacológicas e não farmacológicas; saiba mais abaixo
O campo de atuação do reumatologista é bastante vasto, englobando desde síndromes funcionais, especialmente a fibromialgia, passando por quadros inflamatórios discretos, como a osteoartrose, por distúrbios metabólicos como a gota, até as doenças autoimunes, dentre as mais conhecidas, a artrite reumatoide e o lúpus eritematoso sistêmico. São mais de duzentas patologias que, embora habitualmente associadas ao envelhecimento, na verdade afetam indivíduos de todas as idades. O acometimento de cada doença tem graus variados de severidade, de maneira que um caso bem diagnosticado e bem conduzido sempre contribui para minorar significativamente o sofrimento. Entretanto, não devemos esquecer que estas doenças, por sua cronicidade e necessidade de tratamento contínuo, causam desconforto emocional, ligando-se muitas vezes a depressão e ansiedade. As doenças mais comuns na reumatologia são a osteoartrose (também denominada osteoartrite) e a fibromialgia:
A osteoartrose é mais comum após os 45 anos e sua incidência chega a 30% da população. Sua causa é multifatorial, incluindo genética, fatores ambientais e fatores individuais como obesidade e desvios posturais. A articulação afetada é sempre um fator determinante quando pensamos em qualidade de vida, considerando a queixa clínica do paciente e não somente o quadro radiológico. Assim, o acometimento especialmente de joelhos e coxofemorais, quando sintomáticos, podem causar prejuízos de graus variados na capacidade de locomoção da pessoa acometida. A artrose de mãos, além da dor, apresenta a questão estética, principalmente entre mulheres. Entretanto, a articulação da mão que causa maior prejuízo funcional é a trapézio-metacarpiana, que, por se localizar na base do polegar, prejudica o movimento de pinça fundamental na biomecânica das mãos, causando dificuldade até mesmo para movimentos simples como abrir uma porta ou uma garrafa de água.
A fibromialgia, uma síndrome funcional, tem incidência que varia de 3 a 22% da população. Devido ao fato de não ter nenhum marcador laboratorial ou radiológico, muitas vezes não é diagnosticada. É um quadro crônico com períodos assintomáticos e períodos de grande sofrimento pela dor. Sua manifestação pode variar muito, desde um quadro de dor incapacitante que, em alguns casos, pode levar até a internação do indivíduo, até aqueles pacientes que se apresentam com dores localizadas, não resolvidas através de tratamento local e, que ao exame clínico, se revelam decorrentes de fibromialgia. É importante salientar que a fibromialgia está fortemente associada com distúrbios do sono e alterações emocionais como depressão e ansiedade, de maneira que é muito comum sua sobreposição a outras doenças reumatológicas crônicas. É frequente vermos no consultório, pacientes corretamente tratados para um quadro de artrite, que continuam com queixas de dor importante. Em casos como esse, é possível que toda atenção tenha se voltado para o quadro de artrite, sendo negligenciada a dor pela fibromialgia.
A artrite reumatoide é uma doença que acomete principalmente as articulações, entretanto pode atingir outros sistemas e órgãos, como rins e pulmões. O acometimento articular produz um quadro inflamatório severo que, além da dor, muitas vezes de forte intensidade e deformidades, causa dificuldade nas atividades do cotidiano. Atualmente, com o melhor conhecimento dos mecanismos que levam ao surgimento e cronificação da doença e de novos recursos terapêuticos, em grande número de casos podemos diminuir bastante o sofrimento destes pacientes, inclusive evitando ou minimizando as deformidades articulares. Entretanto, apesar desses avanços, não é incomum uma recidiva do quadro, por vezes sem uma causa aparente, mas que muitas vezes se associa a infecções, sendo que em mulheres o mais comum é a infecção do trato urinário.
O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença decorrente da inflamação de vasos sanguíneos, de maneira que pode acometer praticamente todo o organismo, sendo mais comum o acometimento de pele, articulações, rins e sistema nervoso central. O acometimento varia desde um quadro leve com dores articulares e lesões de pele, até quadros graves com acometimento de rins e sistema nervoso. É mais prevalente em mulheres em idade fértil. O maior conhecimento dos mecanismos causadores da doença e novas medicações tornaram o manejo da doença mais seguro, de modo que tenho em meu consultório pacientes em tratamento há mais de 30 anos.
Enfrentamos, além dos cuidados com a doença, dois problemas; o primeiro referente ao medo das pacientes que procuram informações nas redes e muitas vezes entram em depressão por informações incorretas em relação à doença e um segundo referente a um exame, o Fator Antinuclear (FAN), que, mesmo descrito como indicativo de lúpus, pode apresentar um diagnóstico incorreto. Apesar de crônicas, as patologias reumatológicas atualmente podem ser bem controladas por meio de terapias farmacológicas e não farmacológicas. Deste modo, um diagnóstico e terapia adequados minimizam o sofrimento do paciente.
*Por Dr. Mauro Walter Vaisberg
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