Mpox: emergência e cuidados
OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou que o surto atual já pode ser classificado como uma emergência de saúde pública de importância internacional; saiba mais abaixo
Uma nova cepa do vírus da Mpox fez com que a doença voltasse a ser pauta e preocupação dos órgãos de saúde nas últimas semanas. A OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou que o surto atual já pode ser classificado como uma emergência de saúde pública de importância internacional. Trata-se de uma atitude acertada e prudente, uma vez que as infecções relacionadas à nova linhagem provocam sintomas mais exuberantes e maior mortalidade. No Brasil, precisamos estar preparados para lidar com a doença.
A Mpox, que no passado ficou conhecida inadequadamente como “varíola dos macacos”, conta com duas linhagens principais, chamadas “clado 1” e “clado 2”. Em 2022 houve propagação da doença provocada pela “clado 2”, que é uma versão mais branda e de menor letalidade. Já o surto atual, identificado a partir do continente africano, tem sido causado por uma variante da linhagem “clado 1”, que possui taxa de mortalidade até dez vezes maior entre os infectados.
Além de ser muito mais forte, essa nova variante também tem indicativos de ser mais transmissível. Os primeiros casos do surto atual foram registrados na República Democrática do Congo, no fim do ano passado, e rapidamente se disseminaram para países vizinhos como Uganda, Ruanda, Quênia e Burundi, que nunca haviam notificado casos da cepa anterior. Fora do continente africano, já houve registro de contaminação pela nova cepa na Suécia.
Todos esses fatores são suficientes para compreender a decisão da OMS ao tratar a doença como uma emergência de interesse internacional em saúde pública. Isso permite que os órgãos de saúde de todos os países coloquem-se a postos para evitar que a situação saia de controle, tentando conter o avanço das infecções e mortes a partir de um movimento coordenado de mobilização de recursos para testes de diagnóstico, desenvolvimento e disponibilização de vacinas, dentre outras ações.
É importante frisar que a nomenclatura “emergência internacional” em saúde pública não tem o propósito de despertar pânico nas pessoas, e sim o de mobilizar a comunidade médica, bem como os gestores de saúde, na adoção de planos de contingência eficazes para conter a proliferação da doença, além de alertar a população para os cuidados relativos à prevenção.
Na sociedade pós-Covid, principalmente, as pessoas podem se assustar a ponto de achar que qualquer surto de um novo vírus pode trazer uma nova pandemia, mas não é bem assim. De todo modo, em relação à Mpox, é fundamental estarmos atentos. A medida anunciada pela OMS vem no sentido de se antecipar a uma possível pandemia, freando sua transmissão no mundo.
A Mpox é transmitida primordialmente através de contato, ou seja, só há infecção em caso de exposição de humanos a pessoas ou objetos que contenham carga viral. Isso pode acontecer, principalmente, em contato com fluidos ou secreções de pessoas contaminadas e com sintomas característicos da doença.
Os primeiros sinais da infecção costumam ser lesões e erupções na pele, acompanhados por febre e dores no corpo. São sintomas também comuns a outras doenças, e por isso é necessário buscar imediatamente atenção médica, caso esses sintomas se manifestem. O diagnóstico pode ser feito através da coleta de amostras moleculares, análise laboratorial e sequenciamento genético.
Em um mundo globalizado, no qual muitas pessoas se deslocam para países de diversos continentes, a probabilidade de um vírus atingir várias partes do mundo é grande. Esses organismos são capazes de sofrer mutações e de evoluírem para versões mais perigosas, disseminando-se rapidamente.
Mas essa mesma globalização, aliada à tecnologia e ao avanço da ciência, permite às autoridades sanitárias monitorar as doenças transmissíveis em tempo real e desenvolver medidas para evitar situações ainda mais graves. Agora, com todo o sistema de saúde mundial em alerta, é possível que se criem soluções mais eficazes e resolutivas de prevenção, incluindo a disponibilização de mais vacinas em um futuro próximo. Será mais uma batalha contra um vírus, mas temos totais condições de enfrentá-lo.
*Por Dr. David E. Uip – CRM 25876
Especialista em Infectologia
Integrante do Núcleo/Centro de Infectologia no Hospital Sírio-Libanês
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