Duas semanas depois do incêndio, o Museu Nacional segue abandonado
O ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão não hesita quando lhe perguntam de quem é a culpa pelo incêndio que consumiu o Museu Nacional em 2 de setembro deste ano: a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “A responsabilidade sobre algo é de quem define o orçamento e a administração da instituição no dia a dia e isso era da alçada da UFRJ”, resumiu Leitão na entrevista ao programa Perguntar Não Ofende. “Entre 2012 e 2017, o orçamento da UFRJ cresceu 49%, enquanto o que foi repassado ao Museu caiu 43%. Nem o ministro da Educação pode dizer ao reitor onde os recursos destinados à universidade devem ser alocados, porque ele tem total autonomia administrativa e orçamentária”.
Embora o Museu não estivesse no grupo de instituições geridas pelo Ministério da Cultura (Minc), Leitão afirma que fez o possível para ajudar. “No primeiro mês da minha gestão, fiz uma reunião com o reitor da UFRJ para tratar, entre outros assuntos, do Museu Nacional e do Canecão”, disse. Numa conversa com o presidente do BNDES, o Minc conseguiu a liberação das verbas, mas faltou justamente o projeto de prevenção e combate a incêndios. O fogo acabou chegando antes do dinheiro.
Dos 3.700 museus brasileiros, quase 500 são federais, mas menos de 40 estão sob a guarda do Minc. Leitão admite que, embora estejam razoavelmente bem cuidadas, essas instituições estão longe dos padrões internacionais. “É preciso mudar o modelo de gestão”, acredita o ministro. “Esse modelo 100% estatal está falido. Não podemos mais confundir estatal com público. É possível não ter uma gestão estatal e ao mesmo tempo cumprir uma finalidade pública”. Para ele, as administrações deveriam ser feitas por Organização Social (OS), parcerias público privadas ou gestão compartilhada.
Outra prova dramática da falência do modelo atual: duas semanas depois do incêndio, o Museu Nacional segue abandonado. Embora algumas grades tenham sido colocadas pela prefeitura a pedido do Minc e a Polícia Federal esteja fazendo a perícia, o prédio ainda não foi coberto e as empresas que deveriam fazer os serviços de emergência não foram contratadas pela UFRJ. “O incêndio aconteceu num domingo e, na segunda, o dinheiro já tinha sido disponibilizado”, contou Leitão. Inexplicavelmente, os dirigentes da universidade permanecem de braços cruzados. Com isso, o museu segue exatamente como estava no dia seguinte ao fogo, e o que não foi consumido pelas chamas pode ser destruído pela chuva ou furtado.
Por que a demora? A resposta vem rápida: “No Brasil de hoje, infelizmente, existe muito mais gente vivendo dos problemas que das soluções”.
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