Francisco Balestrin afirma que o Brasil está preparado para enfrentar um surto de coronavírus

Especialista em políticas de saúde, ele também comentou os desafios que precisam ser superados pelo Brasil

  • Por Branca Nunes
  • 01/02/2020 10h14 - Atualizado em 01/02/2020 10h18
EFE/EPA/JEROME FAVRE Pessoas usam máscaras Secretaria do Estado de Saúde de São Paulo monitora três casos suspeitos de coronavírus na capital

No programa Perguntar Não Ofende, Francisco Balestrin, presidente da Associação Mundial de Hospitais e especialista em políticas de saúde, explica que, embora seja menos letal que outros surtos recentes, como o da SARS, o Brasil deve tomar providências para enfrentar uma epidemia de coronavírus. Ele também comentou os desafios que precisam ser superados pelo sistema de saúde brasileiro e as medidas que o governo tem de adotar para aperfeiçoá-lo. Confira trechos da entrevista:

“Embora o epicentro seja a China, existe o risco de um surto de coronavírus no Brasil. A epidemia está se espalhando rapidamente. No Brasil, já temos quase 100 cidades onde foram identificadas pessoas com sintomas da doença. Apesar disso, não é preciso entrar em pânico. A doença é grave, mas seu índice de letalidade é muito menor do que o enfrentado com o Sars, por exemplo. Quanto à prevenção, é necessário seguir as medidas básicas para se proteger de uma gripe: evitar ambientes fechados, ficar atento a pessoas espirrando e com tosse, evitar abraços e beijos, entre outras”.

“No Brasil, a principal falha na saúde é a falta de uma estrutura de atenção ao cidadão. Um dos grandes problemas é a indiferença. Hoje, o brasileiro chega ao hospital e é mal atendido. O segundo ponto está relacionado à tecnologia da informação. Por exemplo: o paciente quer saber se no computador do médico haverá todas as informações referentes à sua saúde. Para que haja tudo isso, é preciso implantar no Brasil um modelo assistencial. Tudo envolto em algo chamado políticas públicas de saúde e desenvolvimento tecnológico”.

“O Brasil é invejado porque tem o maior sistema de saúde pública do mundo. Apesar disso, existem falhas. Há um grande número de pessoas aguardando atendimento e poucos médicos disponíveis. Existe também um excesso de pedidos de exames, o mal atendimento e a falta de empatia”.

“O Brasil aplica cerca de 9,5% do PIB em saúde, o que dá algo em torno de R$ 500 bilhões. Isso não está muito longe do que gastam os países desenvolvidos – o EUA é uma exceção, lá se gasta algo em torno de 19% do PIB. Então o problema não está em quanto se gasta, mas em como se gasta. Além disso, existe o desperdício que, segundo a OMS, é de 20% no mundo todo. No caso do Brasil, de R$ 500 bilhões aplicados na saúde, R$ 100 bilhões é desperdiçado, sendo 10% com corrupção. As instituições não têm programas de gestão de ética ou compliance, por exemplo. Não temos profissionalismo nessa área”.

“Nós fizemos um documento e entregamos a todos os candidatos à Presidência com sugestões ao Ministério da Saúde. Como um primeiro passo, é necessário que haja uma grande discussão sobre o modelo assistencial de saúde. O Brasil precisa ter uma política específica para que o cidadão conheça como é a saúde em nosso país, porque, infelizmente, cada um vê a saúde de uma forma. Falta uma educação que nos permita perceber qual o nosso modelo atual e o que temos de fazer com ele”.

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