Agenda própria e pensamento a longo prazo: o perfil das mulheres no ecossistema cripto
Elas cada vez mais deixam para trás a ‘síndrome da impostora’ e ingressam na criptoeconomia motivadas por seus próprios objetivos financeiros
Há muitos anos alguém me disse que as mulheres se dividem em dois grandes grupos na hora de enfrentar as dificuldades que as impedem de alcançar sua total independência financeira: as que pisam em “chãos pegajosos” e as que se deparam com “escadas quebradas”. Enquanto o principal obstáculo para o primeiro grupo, o das que estão na “base da pirâmide”, costuma ser a falta de oportunidades e, consequentemente, a impossibilidade de decolar, o principal desafio para o segundo grupo de mulheres é fazer o seu dinheiro crescer. Esse propósito costuma ser interrompido de antemão devido à falta de confiança, que as faz pisar em cada degrau com insegurança e incerteza.
Sabe-se que a “síndrome do impostor”, como é conhecida a distorção que nos faz sentir alheios aos nossos próprios méritos, afeta muito mais as mulheres do que os homens. Suas consequências são totalmente visíveis: a persistência de salários mais baixos, a incapacidade de tomar decisões, e a resignação frente à promoção de colegas do sexo masculino com as mesmas habilidades e competências. Felizmente, essa síndrome está começando a se diluir à medida que a narrativa cultural das mulheres se fortalece. Como comentei na coluna anterior, as músicas de Shakira e Miley Cyrus, que abriram o ano de 2023, falam de mulheres cada vez mais autônomas, e a palavra dinheiro deixou de ter uma conotação negativa (“mulheres não choram, mulheres faturam“).
Livres do “FOMO” e com agenda própria
Paralelamente a essa nova e poderosa narrativa, as mulheres têm assumido as rédeas do seu próprio futuro e aproveitado as vantagens oferecidas pelas criptomoedas, projetando suas finanças a longo prazo. Segundo relatórios recentes, mais da metade das mulheres que investem em criptomoedas se consideram “HODLers”, expressão usada para definir as pessoas que projetam seus investimentos por longos períodos de tempo. No caso dos homens, esse percentual cai para 38%. Simultaneamente, um levantamento realizado pela KuCoin revela que tomamos decisões de forma mais autônoma e guiadas por nossas próprias pesquisas. Quase 6 em cada 10 mulheres (58%) afirmam fazer sua própria investigação para decidir sobre seus investimentos e apenas 24% dizem ser influenciadas pelas tendências apresentadas na mídia.
A relevância desses dados é fundamental porque mostra que estamos nos afastando cada vez mais da síndrome do impostor e potencializa a sensação de confiança a cada passo dado. Em um mercado como o das criptomoedas, onde o FOMO (sigla em inglês para “medo de ficar de fora”) muitas vezes leva os investidores novatos a tomar decisões impulsivas, fazer sua própria pesquisa (o “DYOR”, do your own research) confirma que nós, mulheres, não estamos entrando no mundo cripto pela janela, e sim com propósitos firmes e coerentes com nossas expectativas.
Nesse cenário, o desafio é fazer com que mais mulheres percebam as criptomoedas como uma alternativa viável para evitar as “escadas quebradas” da síndrome do impostor. Foi-se o tempo em que as moedas digitais eram algo estranho, destinado apenas a jovens hiperconectados e dispostos a correr riscos extremos. Hoje, o mercado de criptomoedas mostra-se mais consistente e resiliente, e muitas mulheres estão descobrindo que podem moldar seu futuro financeiro olhando muito além do curto prazo.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.