Governo amarga dura derrota após PL do Aborto e PEC das Drogas avançarem na Câmara

Com receio de perder popularidade, Planalto preferiu não se envolver profundamente nos temas, considerado caro para os conservadores; oposição enxergou oportunidade de ‘emparedar’ o governo

  • Por Jovem Pan
  • 13/06/2024 12h44 - Atualizado em 13/06/2024 12h44
PEI FON/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa ao lado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de cerimônia de entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida no Residencial Parque da Lagoa, em Maceió (AL) Governo Lula viu aceleração da PEC do Aborto como um aceno de Arthur Lira à bancada evangélica

O governo federal ficou fragilizado após duas pautas conservadoras avançarem no Congresso na quarta-feira (12). A Câmara dos Deputados aprovou a tramitação, em regime de urgência, de um projeto de lei que propõe a equiparação do aborto ao homicídio. Esse regime de urgência acelera o processo legislativo ao permitir que a proposta seja diretamente levada ao plenário, sem a necessidade de análise pelas comissões temáticas. Essa etapa é geralmente onde ocorrem os debates mais aprofundados. A votação para acelerar a tramitação foi realizada de forma expressa, durando apenas 23 segundos, sob a condução do presidente da Câmara, Artur Lira. Apenas o PCdoB e o PSOL orientaram voto contrário. O PT, partido do presidente Lula, liberou a bancada. Também ontem, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que busca a criminalização do porte e da posse de drogas em qualquer quantidade. A decisão, tomada por uma maioria de 47 votos a favor contra 17. O objetivo é inserir a criminalização diretamente no texto constitucional, especificamente no artigo que aborda os direitos e garantias individuais, conforme explicado pelo relator da PEC, o deputado Ricardo Sales (PL-SP). Com receio de perder popularidade, o Palácio do Planalto preferiu não comprar briga com os setores mais conservadores. Além disso, opositores usaram as votações para “emparedar” o governo.

Setores progressistas ficaram indignados com o projeto de lei sobre o aborto, que sugere um aumento significativo nas penas para quem realizar o procedimento, com a possibilidade de chegar a até 20 anos de prisão. Atualmente, o Brasil não criminaliza o aborto em três situações: quando há anencefalia fetal, em casos de estupro e quando a gravidez representa um risco à saúde da mãe. No entanto, o novo projeto propõe penalizar as vítimas mesmo em casos de abuso sexual, após as 22 semanas de gestação, uma mudança que gerou controvérsia devido à severidade da pena proposta, que seria maior do que a pena máxima para estupradores, atualmente fixada em até dez anos. A aprovação da urgência do projeto gerou reações diversas entre os parlamentares. Membros da base do governo e de partidos de esquerda, como PSOL, PT, PCdoB e PSB, manifestaram-se contra a rapidez da aprovação e prometeram criar obstáculos para a continuidade da tramitação. A medida também foi vista como um aceno de Arthur Lira (PP-AL) à bancada religiosa, em especial à bancada evangélica.

Já a discussão em torno da PEC das Drogas revelou uma clara divisão entre os parlamentares. Críticos, como o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), apontaram para o que consideram uma hipocrisia na medida, contrastando a criminalização do porte de drogas com a aceitação social de outras substâncias, como o álcool. Em contrapartida, defensores da PEC, como o próprio relator Sales, argumentam que a criminalização é necessária para combater o ciclo de financiamento do tráfico e outros crimes associados ao uso de drogas, defendendo uma legislação mais rigorosa como ferramenta de combate a essas atividades ilícitas. Enquanto isso, o STF (Supremo Tribunal Federal) mantém sua própria discussão sobre a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal, com os ministros divididos sobre a questão. A análise do tema pelo Supremo foi pausada em março, após um pedido de vista pelo ministro Dias Toffoli, e ainda não foi retomada.

*Com informações dos repórteres Marília Ribeiro e Henrique Carmo

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