‘Sou a prova viva que carreiras não são lineares’, diz Joana Wosgrau que atua com criatividade sustentável

Ex-empreendedora e com carreira diversificada, ela fala um pouco do projeto em que atua: a Transcriativa é uma aceleradora de negócios e pessoas que utiliza a criatividade brasileira como ferramenta de transformação e diferenciação

  • Por Fabi Saad
  • 19/06/2024 09h18 - Atualizado em 19/06/2024 09h19
Arquivo Pessoal Entrevista Coluna Fabi - Joana Wosgrau Joana Wosgrau: 'Queria escolher uma carreira que gerasse impacto'

Nossa Mulher Positiva é Joana Wosgrau que conta como trabalhar com criatividade sustentável mudou o rumo da sua carreira, e quando percebeu que ser empreendedora do próprio negócio não era mais o seu sonho.

1. Como começou a sua carreira? Sou a prova viva que carreiras não são lineares. Mesmo sendo Millenial, dos anos 90, já travava uma trajetória fora do convencional. Queria escolher uma carreira que gerasse impacto, nessa época, achava que só a política podia de fato criar mecanismos de mudança. Entendi que com as habilidades que apresentava, eu deveria ser Diplomata, porém, ainda não tinha o curso de Relações Internacionais na Universidade Federal e meus pais não tinham condições de pagar faculdade particular. Então um professor de Geografia do terceirão, que trazia sempre experiências de viagens feitas por causa da Geografia, me mostrou que nesse curso você aprende a juntar os mundos da política, do meio ambiente e da economia. Fiz então Geografia na Universidade Federal de Santa Catarina, participei da primeira turma de intercâmbio do Ciência Sem Fronteiras, na França, fiz meu TCC lá e voltei pro Brasil com muita vontade de mudar a realidade do meu país pra melhor Comecei como Educadora Ambiental em negócios tradicionais. Criava e estruturava projetos de impacto para compensação ambiental e capacitação de profissionais, de várias áreas diferentes: desde negócios de construção civil à indústria farmacêutica. Eu achava que tinha algo errado comigo de querer estar em tantas áreas e lugares diferentes, mas não, na verdade era só uma visão sistêmica e estratégica bem aguçada que eu não sabia identificar. Depois de me sentir frustrada em tantas empresas que só falavam que queriam mudar algo, mas na prática não fazer nada, fui empreender meu próprio negócio. Em 2015, criei o 1º restaurante lixo zero do Brasil, a Casa Origem, que se tornou depois a 1ª foodtech zero waste do Brasil (ganhou um belo raio gourmetizador) e depois de 8 anos encerrei esse projeto para encarar outros que me trazem mais satisfação pessoal e impacto na raiz do problema: o jeito que as pessoas pensam. Na verdade, o começo de tudo foi a Casa Origem, tudo que aprendi nos 8 anos empreendendo um negócio ESG de verdade foi o que me fez enxergar que a sustentabilidade só será possível e para todos quando a liberdade de escolha for, de fato, acessível a maioria das pessoas.

2. Como é formatado o modelo de negócios da UNESCO-SOST Transcriativa? A Transcriativa é uma aceleradora de negócios e pessoas que utiliza a criatividade brasileira como ferramenta de transformação e diferenciação. Como Joint Office da Cátedra Unesco de Sustentabilidade (UNESCO-SOST), é referência na promoção da criatividade sustentável e no desenvolvimento de habilidades essenciais para o mercado do futuro. A Transcriativa trabalha com 3 pilares: 1) Vende mentorias e cursos de desenvolvimento de soft skills com foco nas 10 habilidades mais requisitadas pelo mercado, segundo o Fórum Econômico Mundial; 2) Vende palestras sobre criatividade, desenvolvimento pessoal, negócios e ESG; 3) Cria experiências e eventos fora do comum para e com seus parceiros.

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Aceitar que eu não queria mais o negócio-sonho que idealizei, fundei e desenvolvi. Foi muito difícil entender a diferença entre teimosia e resiliência – e sentir que estava deixando na mão clientes, fornecedores e outros negócios que se inspiravam no meu. Criei o 1º restaurante lixo zero do Brasil que virou a 1ª foodtech lixo zero do Brasil – e descobri que meu lugar era outro. O momento mais difícil foi descobrir que eu deveria fechar o projeto que foi minha vida por 8 anos. Mas, se eu soubesse que um “fracasso” me traria à vida onde tenho tempo e disposição para estar com quem eu amo e trabalhar com o que acredito, dando resultado pra quem pede minha ajuda, eu teria “fracassado” há muito tempo. Foram 8 anos tentando abraçar o mundo, resolver todos os problemas com uma empresa só, além de me sentir presa vivendo em função da expectativa de quem construía o negócio comigo. Eu queria provar que era possível sim existir um negócio contra o sistema, mesmo inserido nele, que luta todas as bandeiras, que dá lucro e investe em causas sociais. Um negócio, de fato, revolucionário. Mas quanto mais eu entregava, mais eu era cobrada. Depois de me debruçar estudando comportamento humano, o cérebro e os desdobramentos da mente, entendi que entregar sem comunicar, sem posicionar de forma clara absolutamente tudo, esse é o resultado: frustração, cansaço, desvalorização. Com uma mentalidade sempre de crescimento, puxo pra mim as responsabilidades do que acontece. Acostumada a resolver os problemas dos outros antes dos meus, foi só em 2022, com o nascimento da minha filha, que as fichas foram caindo de forma avassaladora.Com ajuda de uma rede de apoio que eu nunca imaginei que teria, olhei pra minha história e vi todas as oportunidades que eu deixei passar por estar presa a uma ideia que já não me completava mais. Foi a primeira vez que entendi que “tudo bem não querer mais”. Olha o tanto de coisa que eu fiz com um negócio só: desenvolvi produto, desenvolvi curso, consegui uma certificação lixo zero, liderei pelo exemplo, dei mentorias, dei aulas. Essa era acabou e eu só consigo ver isso agora por ter buscado pessoas fora do comum para me auxiliarem a sair da minha bolha, seja participando de comunidades, seja com mentorias de quem realmente já passou por isso. Vale a pena “cortar caminho” com quem já fez mais e melhor que você.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Com muita ajuda. Tenho um marido que é pai (e não me ajuda, mas sim faz a parte dele), colegas de trabalho que incluem as crianças no planejamento estratégico e com muita competência. Para conseguir prosperar nos negócios e ter uma vida pessoal realizada, eu tive que aprender a fazer as coisas mais rápido e com mais resultado. Treinei muito para tirar toda encheção de linguiça dos lugares que ocupo – esse é o segredo pra ser mais produtivo e eficaz. Além destes privilégios, me concentro em ter muito claro meus objetivos do período. Sejam tanto objetivos materiais quanto imateriais, e deixá-los sempre à vista na minha frente. Ninguém prospera sem saber o que quer. Não tem como equilibrar algo que não sabemos o que é. Também é importante entender equilíbrio, não como uma divisão 50/50 do que é importante, mas sim, como um balanço em movimento do que nos cerca. Ninguém dá conta de tudo, nem as pessoas com todos os acessos possíveis, então estar em paz com os “pratinhos” que vão cair no dia-a-dia é uma saída eficaz para se ter equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

5. Qual seu maior sonho? Viver pra ver um mundo com igualdade de oportunidades. Eu vivo pra que cada vez mais pessoas sejam livres e felizes – e dessa forma, tenham liberdade de escolha. A Terra só vai de fato mudar quando ela for livre. Esse é meu grande sonho e propósito de vida, tento materializá-lo ajudando pessoas a cortarem caminho rumo aos seus objetivos mantendo em mente a coletividade, o pensamento sistêmico e a noção de que fazemos parte de um todo indissociável.

6. Qual sua maior conquista? Ser uma boa mãe pra minha filha. Sou o que eu desejo ver no mundo, na verdade nua e crua.
O que eu quero dizer com isso: tenho o privilégio de ter como prioridade estar presente na vida dela, ensinando com paciência e tendo a compreensão de também estar aprendendo no processo. Posso aplicar uma educação respeitosa e positiva, quebrando ciclos anteriores passados de geração em geração na minha família. Consigo errar, enxergar o erro, assumi-lo com humildade e melhorar na próxima chance. E esses ensinamentos são para todos os aspectos da vida, tanto na maternidade, nas relações interpessoais e no trabalho.

7. Livro, filme e mulher que admira (não pode ser a mãe). Livro de negócios: Originais: como os inconformistas mudam o mundo. Livro de literatura: As mil e uma noites (de cabeceira, as histórias mais lindas do mundo). Mulher que admiro: Kamila Camilo, ativista ambiental e fundadora da Creators Academy.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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