Se Alckmin for vice de Lula, vai perder praticamente todos os seus amigos

Ser vice do ex-presidente significa mergulhar de cabeça no universo obscuro de quem esteve à frente dos maiores assaltos ao dinheiro público do país

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 01/12/2021 11h45
Luciano Claudino/Estadão Conteúdo Alckmin discursa durante ato de rua Ex-governador de SP tem sido especulado como um possível vice de Lula em 2022

Ex-governador Geraldo Alckmin vice na chapa de Lula? Claro que algo assim é inconcebível. Até porque, pelo que consta, Alckmin nunca se envolveu em escândalos de corrupção. Ser vice de Lula significa mergulhar de cabeça nesse universo obscuro do ex-presidente que esteve à frente dos maiores assaltos ao dinheiro público do país. Mas para a sordidez da política brasileira, tudo é possível. Geraldo Alckmin vai dando corda nessa história, para ver onde chega ou pode chegar. Quanto a Luiz Inácio, ele faz qualquer negócio sem nenhum constrangimento. O que lhe importa é somente o poder, todo o resto são coisas que não significam nada. Não se sabe como essa ideia surgiu de repente, mas agradou Luiz Inácio como tática política. Para ele, tudo é um jogo. Por esse motivo, Alckmin até já se reuniu com sindicalistas em São Paulo nesta segunda-feira, 29, mas preferiu quase sempre falar de política externa e, às vezes, dos dramas domésticos, sem se aprofundar nas questões. Os sindicalistas, por outro lado, apelaram para que Alckmin aceite ser o vice na chapa de Luiz Inácio da Silva.

Alckmin adiantou que se preparou para a eleição ao governo de São Paulo, mas agora surgiu essa “hipótese federal” e assim as coisas vão tomando novo rumo naturalmente. O ex-governador afirma que essa hipótese está caminhando. Os sindicalistas mostravam-se entusiasmados, porque Alckmin aceitou discutir a questão rapidamente. Não ficou marcando datas. Foi convidado num dia e compareceu ao encontro no outro. Os sindicalistas observaram que Alckmin ser vice de Lula tem um significado especial, até porque as centrais sindicais sempre tiveram as melhores relações com ele, nas oportunidades em que foi governador paulista. E agora as centrais formam uma frente única para derrotar Bolsonaro. Alckmin seria uma preciosidade para derrotar o modelo político atual, que tem provocado uma ruptura democrática. Geraldo Alckmin deixará o PSDB, mas ainda prefere esperar um pouco mais. Seu destino é o PSD de Gilberto Kassab. Só falará sobre isso no início de 2022, quando a situação nacional estiver mais clara.

O PT adianta que uma chapa com Lula e Alckmin é improvável, muito difícil, mas não impossível. O partido lembrou que Luiz Inácio e Geraldo Alckmin já se reuniram duas vezes, abrindo esse canal de diálogo. Já Luiz Inácio é só elogio para Alckmin, dizendo que o ex-governador tem um compromisso com a democracia e que todos conhecem sua forma de pensar e agir, devido à sua longa história na política brasileira. Lula lembra os ataques que já sofreu de Alckmin e aos que também fez ao ex-governador. Mas tudo isso agora pertence ao passado. Não conta mais. E mais: como governador, Alckmin sempre tratou Lula com o maior respeito quando presidente da República, o que se estendeu, também, à ex-presidente Dilma Rousseff.

O maior entusiasta da ideia é o ex-prefeito Fernando Haddad e candidato a presidente em 2018. É bom saber que Alckmin e Haddad mantêm uma relação bastante harmoniosa, tanto que conversam sempre e até firmaram um pacto de não agressão. Alckmin tem conversado a esse respeito com sua mulher, Lu Alckmin, a quem ele diz, sempre, que ainda está refletindo. Nesta quarta-feira, 1º, Luiz Inácio e Geraldo Alckmin teriam um encontro na residência  do ex-secretário estadual Gabriel Chalita, onde foi realizada a primeira reunião entre os dois. Mas o encontro foi desmarcado porque vazou. Lula e Alckmin querem tratar dessa questão longe da imprensa. Geraldo Alckmin sabe que, se aceitar ser o vice de Lula, vai perder praticamente todos os seus amigos. Na verdade, trata-se de uma chapa que não cabe na cabeça de ninguém. Lula não tem nada a perder, porque já está acostumado a jogar assim, na cara dura. Já Alckmin, que tem uma ficha política limpa de qualquer mancha de ladroagem, deve saber que ele estará mergulhando num mar de corrupção nunca vista no Brasil. Mas cada um sabe de si.

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