STF tem liberdade para prender, perseguir e tirar sustento do povo
‘Eu sou a lei, eu sou a democracia’, berra o juiz supremo, que exerce sua tirania com apoio da grande mídia e o silêncio do presidente
Funciona assim: se você crítica fundamentos da democracia como tripartição dos poderes, quando dois deles pesam mais que o principal, que é o Executivo; se você crítica um Congresso fisiológico, que chantageia o governo; se você critica o Supremo por usurpar e limitar poderes do presidente e legislar no lugar da Câmara e do Senado; se você crítica uma Constituição que dá azo a um sistema semiparlamentarista não definido, que permite todo este furdunço de poder difuso no país, em que você vota num projeto de poder e outros poderes atropelam seu voto representativo; então você, hoje, no Brasil, pode ser preso como antidemocrático. Sobretudo, você pode ser preso por ir às ruas protestar contra a possibilidade de ser preso por protestar a favor da liberdade e da democracia. Algum ministro vai dizer que ele, representante da democracia, ou seja , do povo, não pode ser criticado pelo povo real, representado por milhões de pessoas reais nas ruas. Por protestar, querer aprimorar, contestar princípios e regras da democracia representativa no Brasil, hoje o STF pode mandar te prender. E te proibir de sair do país, ou mandar te caçarem fora do país quando você, por medo justificado, tenta fugir de um Estado autoritário togado de juízes que deturpam as leis.
Não adianta vir com o princípio jurídico de devido processo legal, no qual se diz que o cidadão comum deve ser julgado antes de ser preso por instâncias judiciárias: o Supremo te prende baseado em inquéritos absurdos, baseados em suposta milícias digitais, supostos discursos de ódio e supostas fake news, que são mais ou menos estas críticas legítimas a princípios e regras democráticas. Não adianta dizer que, sim, a democracia pressupõe a contestação da própria democracia. Não adianta dizer que este inquérito de milícias digitais já foi enterrado por falta de provas e fundamentos e ressuscitado pelo próprio STF sob outro nome. Não adianta nada: o Supremo te prende, te persegue, arranca seu dinheiro, tira seu sustento, sua liberdade, tudo, caso você ouse se alinhar com algum princípio conservador mais ou menos próximo ao presidente.
Agora, se você pede pela ditadura do proletariado, pede pelo assassinato do presidente, joga bola com a cabeça do presidente, chama-o de nazista, assassino fascista de mulheres, gays e negros, nada acontecerá contigo. Talvez ganhe um emprego nas grandes mídias brasileiras que fazem isso diariamente no noticiário nacional e jamais são chamadas de milícias digitais. E ai do presidente ou qualquer apoiador seu que denunciar este duplo padrão. Será denunciado, nacional e internacionalmente, como perseguidor da liberdade democrática da mídia, que pode massacrar livremente quem quer que seja, sem poder sofrer nenhuma retaliação, porque também diz representar o povo — este que cada vez mais desconfia de uma mídia cada vez mais militante em favor de determinada ideologia que subverte a verdade. Esta, sim, deveria ser perseguida, mas não é. Não se pode dizer, claro, que este é um Estado ditatorial judicial, sob pena de correr o risco de ser preso pelos ditadores juízes. Protegendo-os, há os milicianos midiáticos, jornalistas que se calam ou apoiam qualquer ato de perseguição, silenciamento ou prisão de quem ousa desafiar os ditadores. Quando uma fonte diz que há venda ou mudança de sentenças da Suprema Corte, a grande mídia diz que a fonte — princípio sagrado do jornalismo — é uma espiã. Esta é logo incorporada no inquérito da suprema verdade que massacra, prende e sufoca o cidadão comum.
E o presidente, o que faz diante da ditadura que sufoca e constrange seu próprio governo e persegue e prende seus apoiadores? Ultimamente tem se calado por medo de que uma crise entre poderes possa afetar a economia nacional. O presidente se cala, porém, diante da crise já instalada de um povo oprimido por uma ditadura real, de um Supremo Tribunal Inquisitorial que subverte e massacra a própria democracia e liberdades fundamentais do cidadão, falando em nome delas mesmas. “Eu sou a lei, eu sou a liberdade, eu sou o povo, eu sou a democracia”, berra o juiz supremo que prende e arrebenta, com apoio da grande mídia e o silêncio do presidente.
Vivemos a ditadura ideal para o tirano supremo. Com o apoio de intelectuais e jornalistas que deveriam defender a democracia, mas defendem o juiz tirano para poder castrar o presidente que odeiam, para poder castrar o voto do povo que desprezam. Com o silêncio do presidente que, por receio de crise democrática, se submete ao poder tirano. Resta o povo, massacrado pelo silêncio de quem o devia proteger, pela inação dos que elegeram, pela tirania de quem ele não votou, mas diz que o representa. A ideia de democracia brasileira morreu e vive no imaginário do tirano supremo enlouquecido que diz defendê-la. Ninguém o contesta, todos silenciam, todos o temem. O tirano está nu em sua tirania revelada. O primeiro que apontar sua nudez será preso. Ou será um herói.
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*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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