Alguém precisa pagar pelo caos na pandemia, e Pazuello pode ser o primeiro

Ministro da Saúde está no olho do furacão após lidar de maneira equivocada com a crise sanitária de Manaus, lançar o ineficaz aplicativo TrateCOV e referendar a cloroquina

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 17/02/2021 12h29
Wallace Martins/Futura Press/Estadão Conteúdo - 21/01/2021 Eduardo Pazuello é ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é acusado de tratar a crise sanitária do Amazonas com descaso

O Brasil é um barril de pólvora. Sempre corre o risco de explodir. Se explodisse de vez, talvez fosse bom. O ruim é que vai explodindo aos pedaços, em vários setores. Agora o Supremo Tribunal Federal determinou que a Polícia Federal investigue os gastos do Ministério da Saúde, especialmente aqueles com cloroquina, que o presidente Bolsonaro inventou como medicamento capaz de derrotar a Covid-19. Todos os laboratórios internacionais conceituados do mundo analisaram o remédio e concluíram tratar-se de algo inócuo, até mesmo ridículo, no que diz respeito ao enfrentamento do vírus chinês. O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, está sempre metido em alguma situação mal explicada. Sempre. Como a reunião que os governadores tentam realizar com ele para discutir um plano para a vacinação no país. Uma ideia que se arrasta há tempo, e nada de o encontro ser marcado. Mas, finalmente, será realizado nesta quarta-feira, 17. De um lado, os governadores pedindo soluções, do outro, um ministro que não sabe o que fazer. Não temos hospitais, não temos leitos, não temos vacina. Não temos nada. Mas temos mais de 240 mil mortos pela doença.

A Polícia Federal também exigirá de Pazuello as cópias dos e-mails trocados entre o Ministério da Saúde e a Secretaria da Saúde do Amazonas, que tratam da falta de oxigênio em Manaus, o que provocou a morte de dezenas de pessoas por asfixia. A determinação da investigação partiu do ministro do STF Ricardo Lewandowski, atendendo a pedido da Procuradoria-Geral da República. A ordem é, também, identificar os responsáveis pelo aplicativo TrateCov, lançado pelo ministério, que recomendava o tratamento com cloroquina aos pacientes diagnosticados com a doença. Precisam ser ouvidos. Os policiais federais ouvirão, ainda, funcionários do Ministério da Saúde e das secretarias da Saúde do Amazonas e de Manaus, que acompanharam de perto aquele desastre inadmissível. De acordo com o STF, essa investigação poderá, finalmente, revelar as irregularidades nos gastos de dinheiro público com a cloroquina.

Resumindo, muitos estão responsabilizando Pazuello pela tragédia de Manaus. O ministro não aceita a acusação e assegura que, assim que teve conhecimento da crise, começou a agir. Na quinta-feira, 11, o general falou ao Senado sobre os problemas da capital amazonense. Quanto mais falava, mais se complicava. Houve momentos em que ele mentiu. A palavra pode ser considerada forte, mas a verdade é essa: em determinados momentos, Pazuello mentiu, tanto que foi questionado durante sua explanação. Das frágeis explicações do ministro da Saúde, reforçou-se a ideia da criação da CPI da Pandemia. O governo pede que a questão não seja politizada. De acordo com a Procuradoria-Geral da República, o ministro foi comunicado do caos de Manaus antes do Natal e enviou representantes do ministério para o Norte somente no dia 3 de janeiro, uma semana depois de tomar conhecimento da situação dramática. Outra questão: Pazuello soube da falta de oxigênio em Manaus no dia 8 de janeiro e começou a tomar alguma providência somente no dia 12. Pior: no dia 14, o ministro fez entrega de 120 mil comprimidos de cloroquina à Secretaria da Saúde de Manaus como medicamento para tratar a Covid em pessoas que estavam morrendo com falta de ar.

Nesse quadro entra, também, uma investigação sobre o que fez o ministro diante da evolução da pandemia no Pará. Isso tudo significa que, dentro de dois meses, Pazuello poderá se tornar réu por sua conduta durante a pandemia. O prazo inicial do inquérito é de 60 dias, que poderão ser renováveis. No final, caberá ao procurador-geral, Augusto Aras, apresentar ou não uma denúncia formal. O inquérito tramita sob sigilo. Na verdade, no que diz respeito ao vírus e à pandemia, a conduta do Brasil é um vexame mundial. É só ver o que está ocorrendo agora com a vacinação. Isso tudo é resultado de como a doença foi e é tratada pelo governo desde seu início, deixando claro que a vida das pessoas é uma questão secundária. Um comportamento deplorável e vergonhoso. Afinal, ninguém é obrigado a seguir a cartilha dessa política que ignora do ser humano. Chegou-se onde tinha de se chegar. Se há motivo de punição de alguém, por omissão, que esse alguém seja punido. Mas punido mesmo. Um dia ainda, não se sabe em que época, alguém terá que ser responsabilizado por tudo que tem acontecido neste país numa pandemia tratada com descaso pelos que mandam no país.

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