Após pedido de impeachment de Moraes, República deve pegar fogo com tensão entre os poderes

Marco Aurélio Mello, ex-ministro do STF, diz, com preocupação, que ‘estão esticando a corda demais’; ele não percebeu que a corda já quebrou faz algum tempo

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 23/08/2021 15h05 - Atualizado em 23/08/2021 15h25
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VILMAR BANNACH/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Pessoas em manifestação pró-governo na Paulista segunrando um cartaz escrito Na avenida Paulista, manifestantes pró-Bolsonaro apoiam o voto impresso e protestam contra o STF

A nova semana promete. E promete muito. Ninguém consegue pensar no país. A ordem é cada um por si. Para completar a obra, o presidente Jair Bolsonaro prepara o pedido de impeachment do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, também membro do Supremo Tribunal Federal (STF). A tensão entre os poderes da República vai pegar fogo. Depois de entrar com ação no STF contra o próprio Supremo e de encaminhar pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro quer lavar a alma de sua raiva. O problema é que não é só o presidente que sente raiva. A questão com Luís Roberto Barroso é, ainda, a urna eletrônica, a neura presidencial.  De início, pensou-se em pedir de uma só vez o impeachment de Moraes e o de Barroso, mas a equipe que elabora o documento decidiu por dois pedidos separados, um para cada ministro.

Bolsonaro admitiu no sábado, 21, em Eldorado, no Vale da Ribeira, onde foi visitar sua mãe, que não é fácil fazer um pedido de afastamento de um ministro de um tribunal superior. Por isso, tem de ir por partes. É preciso ter muito equilíbrio, buscar-se a materialidade, estudar bastante as questões. O presidente observa que não se pode apresentar um pedido somente por apresentar. Então, priorizou-se Alexandre de Moraes. Agora chegou a vez de Barroso. Na entrevista a jornalistas, Bolsonaro voltou a criticar os ministros do Supremo, mas assegurou que não deseja uma ruptura no país. Afirmou que o Brasil precisa de calma e harmonia entre os poderes. Observou que sabe bem as consequências de uma ruptura. Mas, segundo ele, o problema é que as atitudes e decisões de Moraes têm trazido inquietações para o país. E isso precisa parar. Não dá para seguir assim.

O presidente informou que participará das manifestações de 7 de Setembro em apoio ao seu governo. Repetiu algumas vezes o que já tinha dito na sexta-feira, 20: que o STF é um “ator político” e por isso deve se submeter a críticas. Continua dizendo que não usa as melhores palavras para criticar, mas jura que suas ações sempre serão pautadas pelos parâmetros constitucionais. Por isso não existe, em qualquer hipótese, qualquer possibilidade de ruptura. Assegura que não praticou nenhum delito, não violou nenhuma lei e muito menos atentou contra a Constituição. Apenas exerceu e exerce sua liberdade de pensamento, que é perfeitamente compatível com a Presidência da República.

A semana que começa nesta segunda-feira, 23, será novamente nervosa, aumentando cada vez mais a tensão que reina no país. Ninguém se entende, e o país segue praticamente paralisado, sem contar a pandemia, que nunca mereceu a atenção que tem no mundo inteiro, na tentativa de salvar vidas. O ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello resume todo esse cenário com poucas palavras, com razão. Afirma que, com os pedidos de impeachment, “estão esticando a corda demais”. Trata-se de uma situação que Marco Aurélio classifica como péssima. O ex-ministro do Supremo só errou em dizer que “estão esticando a corda demais”. Ministro, a corda já quebrou faz algum tempo. Agora é só esperar para ver como é que fica.

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