Bolsonaro deu uma voltinha pelo Nordeste ao lado de Collor, aquele que saiu escorraçado do governo
O mundo dá muitas voltas, e Bolsonaro sabe disso; ele depende dessa gente para governar o país
Presidente Jair Bolsonaro decidiu dar mais uma volta pelo Nordeste. Popularidade em alta, nada mais justo. Comeu sanduíche em padaria, pastel, abraçou todo mundo e foi abraçado. Máscara contra o vírus chinês? Nem pensar. A surpresa foi Bolsonaro ter convidado o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello para integrar a comitiva do Palácio do Planalto. Collor viu nisso uma boquinha para aparecer na fotografia. A razão da viagem de Bolsonaro foi inaugurar uma obra de ampliação do Sistema de Abastecimento de Água, em Piranhas, no sertão de Alagoas. Então lembrou-se de Collor. Explicou: “Fiz o convite e ele aceitou. E com muita satisfação está integrando essa comitiva, o nosso senador Fernando Collor, um homem que luta pelos interesses do Brasil”.
Bolsonaro lamentou a ausência do deputado Arthur Lira, da base aliada, uma pessoa “sempre pronta, sempre alerta”. O parlamentar pegou o vírus chinês e está de quarentena em casa. O mundo dá muitas voltas, como se dizia antigamente. Muitas voltas. Bolsonaro de aproximou do Centrão e precisa dessas pessoas perto dele. Já cedeu os cargos no primeiro e segundo escalões que lhe foram cobrados pelo apoio. Então está tudo bem. O presidente jogou muita conversa fora com Collor mas, em nenhum momento, lembrou que nos anos de 1990 votou pelo seu impeachment. Claro, não podia lembrar. Ia estragar a festa. E Collor ficou na dele, desfrutando daquela nova amizade que saiu do baixo clero da Câmara e hoje é presidente da República.
Num discurso na Câmara em 1992, Bolsonaro atacou Collor de maneira contundente, chamando-o de mentiroso. Naquela ocasião, as palavras de Bolsonaro foram as seguintes: “Aprendi, na caserna, que o chefe que mente não merece credibilidade. E o senhor presidente da República, chefe supremo das Forças Armadas, não deixa de ser um grande mentiroso”. O mundo dá muitas voltas. Hoje, Bolsonaro é presidente e Collor, seja lá como for, é senador da República. Os tempos são outros. Collor é réu pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. É acusado de receber mais R$ 30 milhões de propina em negócios na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras na venda de combustíveis. A denúncia da Procuradoria Geral da República, esclarece que Collor pediu e recebeu o dinheiro entre 2010 e 2014. Mas nada disso interessa. Collor estava lá na comitiva de Bolsonaro, feliz da vida por ter sido lembrado. Essas coisas do passado não interessam mais. O que passou, passou.
Agora, os tempos são outros e Bolsonaro coloca em sua comitiva de amigos quem ele bem entender. O que valeu mesmo foi mais uma visita ao Nordeste, onde mostrou que está de bem com vida. Na comitiva estava também o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, aquele que quer furar o teto das despesas e inimigo do ministro da Economia, Paulo Guedes, que não quer furar teto nenhum. Inimigos cordiais, estão conseguindo levar o barco no Palácio do Planalto, disputando os afagos do presidente. Rogério Marinho não se faz de rogado e desfila saltitante ao lado de Bolsonaro. Nessa briga com Paulo Guedes, será o vencedor. No entanto, isso não tem nada a ver. O que vale é que Bolsonaro deu mais uma voltinha pelo Nordeste do Brasil, desta vez ao lado de Collor. Aquele que saiu escorraçado do governo e hoje é senador e réu por corrupção. O mundo dá muitas voltas. Bolsonaro sabe disso. Ele depende dessa gente para governar o país.
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