Viagem de Mourão com diplomatas estrangeiros para a Amazônia foi inútil
Líderes dos outros países estão cansados de saber o que acontece com a pobre floresta: essa coisa deplorável que destrói tudo por falta de uma política séria para a região
Impossível não chamar de inútil a viagem que o vice-presidente Hamilton Mourão fez com diplomatas estrangeiros à Amazônia. Mourão afirmou que objetivo do voo foi mostrar à comunidade internacional que o Brasil não tem o que esconder. A viagem de avião pela Amazônia foi decidida quando o governo recebeu uma carta de embaixadores de vários países dizendo que o desmatamento cada vez maior na região poderá prejudicar a importação de produtos brasileiros. É uma carta educada, organizada por oito países europeus. Educada, mas lembrou o descaso do governo brasileiro com o meio ambiente neste país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Antes do avião partir de Brasília, Mourão garantiu que não mostraria aos diplomas somente parte da floresta que ainda existe, aquela que ainda não foi destruída pelos índios e pelos caboclos, no dizer do presidente Bolsonaro. E lá foram eles para ver de cima a beleza daquele verde sem fim.
O governo quer dar um basta às críticas que recebe de países estrangeiros pelo tratamento dispensado à floresta que está sempre pegando fogo, sem falar do desmatamento criminoso realizado por quadrilheiros para roubar madeira e de grileiros que invadem a região e as áreas indígenas. Faz bem o governo em pensar em dar um basta nisso. Faz bem. O general Mourão, além de vice, é presidente do Conselho da Amazônia, por determinação de Bolsonaro que, de alguma maneira, quer acabar com aquela zona em que se transformou a Amazônia, onde os bandidos fazem o que bem entendem e não são repreendidos por ninguém. Na verdade, os bandoleiros estão à vontade na Amazônia, já que o Brasil não tem ministro do Meio Ambiente – esse que aí está não vale. Na verdade, infelizmente, a Amazônia não é assunto de interesse. Bolsonaro admira Trump, age e pensa como ele. Mas o Trump caiu do cavalo.
Palavras singelas do general Mourão: “O grande objetivo de nossa viagem foi mostrar que o governo brasileiro não tem o que esconder e que nós estamos abertos a todo e qualquer diálogo necessário para mostrar à comunidade internacional os nossos compromissos”. O vice-presidente acredita que no final dessa viagem os diplomatas estrangeiros tiveram condições de tirar suas próprias conclusões. O avião saiu de Brasília em direção à Serra do Cachimbo, na divisa entre o Mato Grosso e o Pará. Depois, o avião reduziu a altitude e foi em direção a Santarém. É um trecho com áreas desmatadas e atingidas pelo fogo. Aquele horror que sabemos. A seguir, Mourão levou os diplomatas para uma parte da Amazônia que ainda não está desmatada. Uma beleza! Os embaixadores disseram: “Oh!!!”. Foi contagiante.
Participaram da viagem os chefes das missões diplomáticas da África do Sul, Alemanha, Canadá, Colômbia, Espanha, França, Peru, Portugal, Reino Unido e Suécia. Mas foi uma iniciativa inútil. Explico: esse povo está cansado de saber o que acontece com a pobre Amazônia. Para isso existem dezenas de satélites voando por aí mostrando esse descalabro dia e noite, ininterruptamente. O mundo inteiro sabe o que acontece na Amazônia, essa coisa deplorável que destrói tudo por falta de uma política séria para a região. Se a Amazônia é brasileira, cabe o Brasil cuidar com zelo dessa área, dando a ela os cuidados que merece. Nesta quarta-feira, 4, o próprio general Mourão disse aos jornalistas em Brasília que o governo não tem ainda nenhuma meta para 2021 com o objetivo de combater as queimadas e o desmatamento criminoso. Não existe nada. Eu fico vendo essas coisas e me sinto triste, mesmo sendo um cidadão de quinta categoria. Eu tenho uma ideia que vou apresentar ao governo nos próximos dias. É o seguinte: dividir a Amazônia em quatro partes. Uma será destinada à plantação de soja. Outra, vamos utilizar como pasto de boi. A terceira parte deixaremos intacta para pôr fogo de vez em quando. E na quarta parte, construiremos um imenso estacionamento latino-americano, com pistas especiais para facilitar a fuga dos grandes traficantes de drogas. Tenho certeza que o governo vai aceitar.
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