Defunto do voto impresso está enterrado em sepultura fechada no esquecimento
Em evento, presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, afirmou que chegaremos a 2022 com as instituições funcionando, eleições livres e uma campanha aberta, robusta e digna
A conversa continua, mas mais ou menos em silêncio, sem fazer alarde. O presidente Jair Bolsonaro não se conformou ainda que as eleições de 2022 serão realizadas com as urnas eletrônicas. Está difícil de engolir essa derrota. A verdade é que o defunto do voto impresso está enterrado. Mas, mesmo enterrado, a urna eletrônica ainda causa dúvidas na população. Depois daquele estardalhaço de Bolsonaro sobre o assunto, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, parece ser um homem tranquilo sobre essa questão. Parece. Não se sabe bem o que ele ainda pensa sobre o presidente ter tentado incendiar o ambiente um ano antes das eleições de 2022. Barroso garante que as eleições do ano que vem serão normais, com as instituições brasileiras funcionando como devem. Não adianta as tropas bolsonaristas continuarem nas suas exigências sobre o voto impresso. Nada disso interessa agora.
O presidente do TSE parece estar consciente do que vem afirmando, uma espécie de desafio a Bolsonaro. Podem falar a vontade. As eleições serão realizadas dentro da civilidade. Luís Roberto Barroso falou na abertura do “Seminário Internacional: Integridade Eleitoral na América Latina – Experiências Recentes e Perspectivas”, organizado em parceria entre o STF e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). E disse claramente para os bons entendedores o que se passa neste país atualmente. Afirmou que chegaremos a 2022 com as instituições funcionando, eleições livres e uma campanha aberta, robusta e digna. Mas confirmou que políticos eleitos pelo voto popular ainda tentam a “erosão” da democracia. Sem citar nomes, a frase foi direta para o presidente Jair Bolsonaro, que prometeu acalmar o discurso, mas sempre deixa escapar uma ameaça golpista. Com isso na cabeça, Barroso observou que o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o próprio TSE têm sido bons guardiões da democracia que resiste e se consolida diante dos ataques. Parece uma orquestra: as ameaças vêm de pontos diversos, tijolo por tijolo, na tentativa de desconstruir alguns pilares da democracia, concentrando o poder no Executivo.
Sem nunca citar Bolsonaro, Barroso observou que são líderes políticos que procuraram desacreditar as instituições, cooptando ou alijando o Congresso dos processos políticos e mudança à própria legislação com o abuso do poder. Para Barroso, essa estratégia antidemocrática vem do populismo extremista e autoritário. No entanto, a sociedade está mobilizada e a imprensa livre. Sobre o voto impresso, como exige Bolsonaro, o presidente do TSE afirma que finalmente esse defunto foi enterrado. Outra direta ao presidente que recentemente assegurou que não vai “melar” a eleição presidencial, fazendo, no entanto, a ressalva de que, com as Forças Armadas participando, não há porque duvidar do voto eletrônico. Essa afirmação de Bolsonaro deixou Barroso feliz da vida. Notou-se que a abertura desse evento internacional sobre eleições não contou com nenhuma figura bolsonarista. Barroso explicou que convidou todo mundo e assinalou que na vida “a gente não seduz quem não quer ser seduzido”. Seja como for, a desinformação sobre a urna eletrônica continua, porque sempre que pode, Bolsonaro toca nesse assunto plantando dúvidas na população. Num ambiente de fanáticos, essa dúvida é uma verdade. Mas, ao que tudo indica, o defunto do voto impresso está enterrado numa sepultura fechada no esquecimento.
* Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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