Enquanto alguns fazem troça, vírus destrói vidas, a saúde mental das pessoas e até a economia

Dói saber que autoridades desacreditam de um mal que fez explodir os pedidos de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez no Brasil

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 02/02/2021 12h48 - Atualizado em 02/02/2021 13h02
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Engin Akyurt/Pixabay Mulher usa máscara branca, veste jaqueta preta e apoia a mão na cabeça Transtornos mentais atingiram 576 mil pessoas no Brasil em 2020, de acordo com a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho

A pandemia não significa somente esse sentimento de pesar de todos os dias provocado pelo vírus chinês. Não significa apenas este medo que atualmente percorre quase tudo. Significa, também, um medo incontrolável que se transforma numa doença. Por causa da pandemia, milhares de pessoas passaram a ser inválidas para o trabalho e para o convívio social, tal a tristeza que sentem diante de tudo. Os transtornos mentais e de comportamento atingiram 576 mil pessoas em 2020, de acordo com informações da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Esse é um dos efeitos da crise do coronovírus sobre a saúde mental das pessoas, especialmente as que trabalham e dependem do emprego para sustentar a família. O que dói é saber que milhares de pessoas ainda negam o vírus, a doença, a pandemia e, até mesmo, as mais de 225 mil mortes de brasileiros vítimas da Covid-19. Negam por negar, simplesmente assim. E zombam dos que têm medo, dos que temem esse mal invisível que atingiu o mundo inteiro, deixando uma marca que não se apagará nunca da vida da população. O mundo nunca mais será o mesmo.

Claro que essas doenças mentais provocadas pela angústia atingem a economia. Basta dizer que o auxílio-doença registou, em 2020, o maior número de pedidos dos últimos anos. Nunca havia acontecido desta maneira. Isso envolve afastamento do trabalho por causa dos transtornos mentais, ansiedade, depressão, pânico. O número de concessões do benefício chegou a 285 mil em 2020. Também subiu o número de aposentadorias por invalidez, chegando a 291 mil. Os especialistas que estudam o assunto dizem que a pandemia está afetando a saúde mental das pessoas de um modo geral. Os trabalhadores estão adoecendo mais, e a tendência é de que isso aumente nos próximos anos. Entre os males pelos quais a pandemia atinge as pessoas destacam-se a apreensão e a incerteza em torno da vacinação e a mutação do vírus. Mesmo as pessoas que passaram a trabalhar em casa se queixam de dias exaustivos. Mudou tudo de repente e ninguém estava preparado para essa mudança. A apreensão e a incerteza quanto à vacinação fica por conta de um governo que cada vez diz uma coisa, alimentando a dúvida na populaça quase que diariamente, desacreditando até mesmo as vacinas produzidas por vários laboratórios internacionais. Não há nenhum gesto de compaixão. Nenhum gesto de solidariedade. Nenhuma menção verdadeira em relação aos mortos e suas famílias. O que há de sobra, infelizmente, é aquela palavra raivosa de alguém que pensa estar acima de tudo. Mas trata-se somente de alguém circunstancial.

De acordo com a empresa de consultoria em recursos humanos Mercer Marsh Benfícios, o número de pedidos de empresas brasileiras que buscaram apoio psicológico para seus trabalhadores antes da pandemia passou de 2,2 milhões para 8 milhões com o surgimento da Covid-19. São dados que revelam bem esse quadro cada vez mais sombrio. No que diz respeito ao Brasil, não pode ser diferente, porque além do próprio mal, há ainda os discursos oficiais que negam a doença, como se todos estivessem loucos dentro de um grande manicômio de portas fechadas. Não é assim. As pessoas estão fragilizadas e quase todas se sentem desprotegidas, num imenso oceano de incertezas em relação ao futuro, como um barco à deriva à espera do próprio naufrágio. Desde o início de tudo, faltou-nos uma palavra esclarecedora e solidária. Especialmente solidária. Mas falar em solidariedade num tempo assim é perder tempo. E o tempo perdido significa mais um número numa estatística fúnebre que aparece atender muitos que aí estão. A ordem oficial é sair às ruas como se nada estivesse acontecendo. Para esses que mandam, a vida não vale nada.

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