Imprensa internacional relata cenas repulsivas do Brasil durante a pandemia

Veículos destacam o descaso com que a crise sempre foi tratada no país, como se o ser humano fosse um detrito, uma coisa qualquer que possa ter a vida descartada

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 29/03/2021 12h06
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LEO SALLES/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Banhistas curtem a praia de Copacabana, no Rio, mesmo com restrições Mesmo com restrições para conter a Covid-19 e mais de 3 mil mortos por dia, banhistas foram à praia de Copacabana, no Rio, para curtir 'megaferiado'

Não bastassem as agruras de cada dia, o Brasil se transformou numa ameaça mundial com relação à Covid-19. Há explicações para isso, especialmente pelo descaso inconsequente que o país sempre deu ao coronavírus. Atualmente, 0 Brasil está nas manchetes do mundo. Infelizmente, isso só acontece em casos negativos deste país que nunca revela ter um rumo certo a seguir. O destaque brasileiro no mundo são as mais de 300 mil mortes pela Covid-19. E mesmo com mais de 300 mil mortos, o país continua errando e, em muitos casos, mostrando uma arrogância que não cabe na cara de autoridades que se dizem sérias. Os jornais internacionais falam do colapso do sistema de saúde e cobram uma atitude competente do governo federal. A imprensa do mundo comenta a situação do Brasil demonstrando preocupação com a conduta confusa do país diante do que vem acontecendo. E lembram como se chegou a este cenário de medo.

Primeiro, no início de tudo, o descaso com o vírus, depois o descaso com a doença e finalmente o descaso com o número de mortos que aumentava a cada dia, enquanto o presidente passeava de jet sky no lago Paranoá ou de moto pelas largas avenidas de Brasília. Ao mesmo tempo, dezenas e dezenas de caixões feitos às pressas eram enterrados em covas abertas ininterruptamente. A imprensa estrangeira observa que o Brasil merece atenção especial. A manchete do New York Times deste sábado, 27, foi: “Um colapso anunciado: como a epidemia da Covid no Brasil sobrecarregou os hospitais”. O jornal americano se detém especialmente no luto de mais de 300 mil famílias, mencionando que esse pior momento da pandemia poderia ter sido evitado se o governo tivesse incentivado a população a enfrentar o perigo de acordo com a orientação da ciência e não como uma aventura de inconsequências que incluiu até mesmo medicamentos que nada representam diante da doença. Também no sábado, 27, o site da CNN informou sobre os sinais de colapso nos hospitais brasileiros por causa da falta de seriedade no enfrentamento da doença. A reportagem criticou duramente o governo brasileiro, que sempre negou à crise uma resposta séria. Preferiu o descaso, o que gerou essa incompetência que hoje mata mais de 3 mil pessoas por dia no país. Comenta, ainda, os desentendimentos de Bolsonaro com os governadores, citando as críticas do presidente às restrições e aos isolamentos mais rígidos tentando barrar o vírus.

A CNN chega a dizer que, atualmente, o Brasil representa uma ameaça mundial pelo descontrole da pandemia, especialmente porque o Brasil é um território fértil para o surgimento de novas variantes do vírus. Já a revista The Economist, do Reino Unido, fez um alerta sobre a nova variante do vírus no Brasil que se mostra mais contagiosa. A revista afirma textualmente: “Bolsonaro tem muito a responder”. Também do Reino Unido, o The Guardian escreveu em sua manchete que o Brasil vive o março mais triste de sua história e se refere às críticas que Bolsonaro começa a receber dos brasileiros inconformados diante da inércia na gestão da saúde no país. Na última quarta-feira, 24, o francês Le Figaro afirmou que o Brasil perdeu o controle da pandemia, lembrando a falta de leitos, de medicamentos e até de oxigênio, o que tem custado a vida de milhares de pessoas, ressaltando, ainda, a dificuldade dos profissionais da saúde para lidar com os doentes cada vez em maior número.

Infelizmente, esse é o cenário utilizado pela imprensa internacional para descrever as cenas repulsivas da pandemia no Brasil, destacando, sempre, o descaso – e é bom repetir essa palavra – com que a crise foi sempre tratada no país com palavras frias até de desumanidade, como se o ser humano – pelo menos no Brasil – fosse um detrito, qualquer coisa que possa ter a vida descartada sem qualquer respeito. O jornal americano Washington Post, na semana passada, resumiu bem a situação ao dizer que o Brasil se tornou um exemplo para o resto do mundo de como não se deve lidar com a pandemia do novo coronavírus. Ressaltando as falhas absurdas para lidar com a pandemia, mostrou que o Brasil se tornou uma ameaça para o mundo, chegando a dizer que continuará afetando seus vizinhos se não levar a doença a série e isso já pode ser compreendido como um alarme global. Esse é o tom da imprensa internacional sobre o Brasil, sem contar as palestras e pronunciamentos sobre a Covid que sempre lembram do Brasil como um exemplo a não se seguir. Essas são as manchetes do Brasil no exterior, revoltantes, mas verdadeiras. Certamente, para muitos,  300 mil mortos não bastam. É preciso mais. Muito mais. Quem sabe o governo ainda possa levar a sério uma doença que assusta o mundo. Há sinalizações de que o governo está mudando seus rumos em relação à Covid. Mas são sinais sem muita convicção. Essas boas intenções com palavras mais comedidas não convencem os que ainda conseguem pensar no país. De bem intencionados o inferno está cheio.

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