Lewandowski deu prazo para Pazuello explicar vacinação, mas ministro da Saúde não sabe de nada
Programa de governo entregue ao STF não indica a data de quando o Brasil vai começar a imunizar a população contra a Covid-19
A vacinação contra o coronavírus no Brasil se transformou numa imensa fábrica de desinformação. Pode até ser de propósito, porque a vacinação envolve uma guerra política. Mas a verdade verdadeira é que deve ser incompetência mesmo. Alguém no Brasil esperava um outro comportamento do governo no que diz respeito à vacinação. Quem? A maioria sabia de antemão que a vacinação se transformaria nessa desordem. No entanto, essa melancolia faz parte de uma questão que, desde o início, foi tratada com descaso. A vacina nem chegou no Brasil. Imaginem quando chegar, o que essa gente fará em nome de suas vaidades e poder circunstancial? Agora, o governo federal quer centralizar todo o trabalho de vacinação. Mas agora é tarde. A questão da doença no Brasil foi sempre tratada com profundo desdém. Agora é tarde.
Diante da reação da população, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, correu para dizer que o Programa Nacional de Vacinação não significa confisco de vacinas compradas pelos estados. Essa conversa sobre confisco das vacinas começou com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Pelo que consta, ele não é maluco. Se falou sobre o confisco, devia estar informado sobre o assunto. Até adiantou que o governo editaria uma medida provisória com essa finalidade. A ordem seria a centralização e a distribuição igualitária das vacinas. Sendo assim, de acordo com que disse Caiado, o governo iria requisitar todas as vacinas contra o coronavírus que estivessem no Brasil. Imediatamente entrou em cena o governador de São Paulo, João Doria, o desafeto de Bolsonaro. Doria acusou Bolsonaro de insano, observando ser triste qualquer país com homens assim à frente do governo, negando a pandemia e promovendo a discórdia, que significa abandonar o povo.
O ministro da Saúde tratou, a seguir, de divulgar nota para esclarecer à população, observando que todas as campanhas nacionais de vacinação são feitas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), coordenado pelo Ministério da Saúde. E repetiu várias vezes que não haverá confisco nenhum de vacina, isso foi invenção do governador Ronaldo Caiado, que talvez não tenha o que fazer. Tanto que Caiado foi criticado pelo ministro da Saúde. Afinal, qual é a dele, ao fazer tal afirmação? No sábado, 12, o governo federal entregou ao STF um plano de imunização que prevê 108 milhões de doses somente para os grupos prioritários, que incluem profissionais da saúde e idosos. Nessa etapa serão utilizadas 51 milhões de vacinas. Tudo bem, só que tem uma coisa: o programa do governo entregue ao STF não indica a data de quando essa vacinação vai começar. Diz somente que os grupos prioritários serão vacinados no primeiro semestre de 2021.
O título do programa é pomposo: “Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19”. Apesar da existência do plano, ainda não existe nenhuma vacina liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O plano prevê três acordos que garantem 300 milhões de doses da vacina. São os seguintes: 1. Friocruz/Astrazeneca – 104,5 milhões de doses até julho de 2021 e mais 30 milhões no segundo semestre; 2. Covax Facility: 42,5 milhões de doses: e 3. Pfizer – 70 milhões de doses ainda em negociação. Em nenhum momento o documento do governo cita a CoronaVac, a “vacina chinesa do Doria”, no dizer de Bolsonaro. Nem um “a”. Guerra é guerra. E nessa balbúrdia, há alguns dias Bolsonaro afirmou que a pandemia está no “finalzinho” e o ministro da Saúde teve a coragem de dizer que não. Aqui o termo é mesmo “coragem”, até porque o ministro é quase sempre desmentido por Bolsonaro o que, muitas vezes, chega à humilhação. O ministro da Saúde desmentiu Bolsonaro dizendo que a pandemia não acabou. Adiantou que a doença prossegue e que o Brasil terá de conviver com o vírus e que isso só acabará quando o país tiver vacinas que efetivamente combatam a doença.
Na sexta-feira, 11, em cerimônia em Porto Alegre, Bolsonaro garantiu: “O nosso governo, levando-se em conta outros países do mundo, foi aquele que melhor se saiu, ou um dos melhores que se saíram na pandemia”. Sim, o presidente disse isso. Não dá mesmo para compreender nada. No sábado, 12, o governador João Doria voltou à cena fazendo uma provocação. Garantiu que São Paulo mantém seu programa de vacinação, que será iniciado no dia 25 de janeiro, aniversário da capital paulista. E isso acontecerá mesmo que a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, não apresente seus resultados finais. Doria falou no suposto confisco das vacinas pelo governo federal. Ele duvida que isso aconteça. Mas já se sabe que, pelo sim e pelo não, o governo paulista está preparando uma ação judicial, caso isso de fato ocorra.
No sábado à noite, 12, um grupo de 31 dos pesquisadores que representam diversas instituições na área da Saúde e que participaram da elaboração do Plano Nacional de Vacinação divulgou uma nota de repúdio ao governo, porque os cientistas não receberam uma cópia do documento. O grupo observou que esse comportamento do governo causou estranheza e surpresa. Os cientistas afirmam que o plano foi entregue ao STF sem sua anuência. E reclamam que tudo o que perguntam ao Ministério da Saúde têm como resposta apenas evasivas que não explicam nada. A epidemiologista Ethel Maciel, que pertence a esse grupo de pesquisadores, afirmou que o quadro sobre a vacinação contra o coronavírus no Brasil vive um momento desastroso.
No domingo pela manhã, 13, o ministério da Saúde se apressou em responder, afirmando que os pesquisadores não têm nenhum poder de decisão. Eduardo Pazuello foi contundente ao dizer que esses cientistas são apenas técnicos escolhidos como convidados. Mais nada. E para concluir o domingo em grande estilo, o ministro do STF, Ricardo Lewandovski, deu o prazo de 48 horas para que o ministro Eduardo Pazuello informe quando é que a vacinação vai começar e terminar no Brasil. O ministro Lewandowski deve estar sonhando. Pazuello não sabe de nada. Não tem como responder a essa questão. Diz apenas timidamente que isso vai depender do andamento da doença. E enquanto tudo isso acontece, o número de mortos brasileiros passou de 180 mil neste final de semana. Mas tudo isso é mentira. O coronavírus não existe, não é mesmo?
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