Meio ambiente não é levado a sério no Brasil e madeireiros ilegais não são punidos como deveriam

É possível identificar os responsáveis pelos números do desmatamento por meio do Cadastro Ambiental Rural, mas o Ibama só autuou ou embargou terras em 2% dos casos

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 22/06/2021 13h57
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GABRIELA BILO/ESTADÃO Queimada em Matupi, sul do Amazonas Além do desmatamento, há a previsão de queda no volume de chuvas na Amazônia e no Cerrado, o que piora a situação das queimadas

No ano passado, o Brasil perdeu 24 árvores por segundo. Só por esse número hediondo pode-se compreender a que nível chegou o desmatamento no país, especialmente na floresta, onde os madeireiros ilegais agem dia e noite e parecem protegidos ninguém sabe ao certo por quem. Nunca se chegou a esse patamar. E tudo acontece diante dos olhos de um governo que deu adeus ao meio ambiente. Autoridades do país pensam que meio ambiente é “frescura”, deixando o mundo assombrado com esse desleixo. Mas esse é o número da “frescura”: 24 árvores por segundo são destruídas no país, de acordo com informações do Projeto MapBiomas, deixando claro que a derrubada ilegal da vegetação nativa perdeu o controle. Para identificar um desmate ilegal, o MapBiomas cruza os dados de outros bancos, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), com o objetivo de estimar quanto da mata derrubada deveria implicar em infração penal. O monitoramento do desmanche da floresta utiliza também dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que se envolveu num ataque de fúria de Bolsonaro logo no início do governo, em 2019. O superintendente do INPE, na ocasião, chegou a ser exonerado porque o presidente duvidou dos números sobre o desmatamento, o que se transformou em assunto internacional. Mudou o superintendente, mas o desmatamento não mudou em nada, pelo contrário, aumentou, é escandaloso.

Isso é uma loucura: a taxa média de ilegalidade no desmatamento chega a 99,8%. A área desmatada se sobrepõe às terra indígenas, às unidades de conservação, às áreas sob o plano de manejo para extração sustentável e às áreas de proteção permanente. É vergonhoso saber que pelo Cadastro Ambiental Rural é possível identificar os responsáveis pelos números pornográficos do desmatamento, mas o Ibama só autuou ou embargou terras em 2% dos casos. A impunidade é total no setor, exemplo do que ocorre em outros setores da vida nacional. Parece uma terra de ninguém. A fiscalização praticamente desapareceu, por ordem do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado de proteger madeireiros ilegais. Acusações sérias que, num país civilizado, não passariam sem uma investigação. Mas não acontece nada. E nesse crime entraram, agora, a Mata Atlântica e o Cerrado, que passaram a ser alvo dos quadrilheiros que, quando por um acaso são presos, ganham a liberdade no mesmo dia. O Estado que mais desmatou em 2020 foi o Pará. Um grupo de 50 municípios foi responsável por metade da área desmatada no Brasil, 12 dele paraenses. Agora, as Forças Armadas voltaram à Amazônia para proteger a floresta e também os indígenas.

O vice-presidente Hamilton Mourão, que é também presidente do Conselho da Amazônia, conversou com o presidente Bolsonaro relatando o caos de uma situação sem controle, entregue às mãos das quadrilhas de madeireiros ilegais que agem na região. Bolsonaro autorizou uma nova operação para auxiliar no combate ao desmatamento. A nova operação, com participação das Forças Armadas, deverá durar dois meses. Mourão observa que a medida se faz necessária, após três meses seguidos de desmatamento recorde naquela área. Esta será a terceira operação com esse objetivo realizada no governo Bolsonaro. A nova investida contra os bandidos da floresta custará R$ 50 milhões, dinheiro que ainda depende da alma caridosa do ministro Paulo Guedes, da Economia. Mourão diz que além do desmatamento ilegal, espera-se uma temporada histórica de queimadas neste ano por causa da falta de chuvas na região, conforme informa o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Mourão adianta que necessita do auxílio do Ibama para essa nova operação, ao mesmo tempo que reclama abertamente do desinteresse do Ministério do Meio Ambiente, que sequer se prontificou a enviar um representante na última reunião do Conselho da Amazônia para discutir o assunto. Mourão afirma que se não houver união, esta será mais uma operação que vai fracassar, com Forças Armadas e tudo. O melhor é correr com isso, antes que a floresta desapareça de vez.

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