Melhor acontecimento da história do país, Lava Jato corre o risco de ser apagada
Edson Fachin diz agora que a suspeição de Sergio Moro pode ter um efeito devastador, mas foi ele quem apertou o botão para mais essa vergonha brasileira
O Brasil não tem culpa de, tantas vezes, representar uma sombra na vida dos brasileiros. Quase sempre depende de medidas estúpidas e até mesmo cínicas de autoridades que tomam decisões quadrúpedes. Como a do ministro do STF Edson Fachin, aquele que anulou as condenações de Lula. Ele diz agora que a suspeição do ex-juiz Sergio Moro terá um efeito devastador no país, pois anulará todos os casos da Lava Jato. Será como se a força-tarefa nunca tivesse existido. Fachin, o iluminado, se diz preocupado com esse julgamento, mas não diz que foi ele quem apertou o botão para mais essa vergonha brasileira, já que a Lava Jato foi o que de melhor aconteceu na história deste país, levando para a prisão corruptos de alto calibre que nunca imaginaram que um dia seriam alcançados pela Justiça. E coube a Moro levar essa tarefa adiante, com determinação e coragem.
Edson Fachin afirma que sua decisão de anular as condenações de Lula seria apenas restrita a esse caso, apenas isso. Ocorre que, de repente, a Lava Jato poderá desaparecer da história recente brasileira, mas haverá de ficar na memória do cidadão, que não perdoará esse equívoco de interesses exclusivos daqueles mesmos que sempre roubaram o país em tudo. Em entrevista ao jornal “O Globo”, no sábado, 13, o ministro do STF assinalou que não é possível varrer para debaixo do tapete os supostos diálogos entre os integrantes da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro e que caberá ao tribunal firmar uma posição jurídica para utilizar essas provas. Convém destacar aqui a palavra “supostos”. Convém dizer, também, que esses diálogos foram conseguidos de maneira criminosa, por um bando de hackers, numa história que até agora não foi esclarecida. Sabe-se, sim, que envolveu a figura de Manuela D´Ávila, candidata à vice-presidente na chapa de Fernando Haddad. Tudo assim tão simples. De uma simplicidade que só acontece em países que primam pela desonestidade.
Edson Fachin, que é também vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, mostra-se preocupado com os sinais de rompimento que vem sendo dados pelo presidente Jair Bolsonaro no que diz respeito à eleição de 2022. Bolsonaro tem afirmado que poderá acontecer no Brasil o que ocorreu nos Estados Unidos, com a invasão do Capitólio. Não vamos esquecer que, antes de ser membro do STF, Fachin era uma espécie de cabo eleitoral da então candidata à presidência da República Dilma Rousseff. E coube a esse cidadão, uma das 11 celebridades do Supremo, tomar uma decisão que virou o país de cabeça para baixo. Agora ele decidiu liberar para julgamento do plenário do Tribunal o recurso da Procuradoria Geral da República contra sua decisão de anular as condenações de Lula na Lava Jato de Curitiba. Ele já entregou as ações penais para a Justiça Federal do Distrito Federal. A PGR quer o reconhecimento da atribuição da Justiça do Paraná na análise dos processos. Fachin adianta que espera agora uma manifestação da defesa de Lula, para depois enviar o caso ao presidente do STF, Luiz Fux, que definirá a data para o julgamento no plenário. No recurso da PGR, a subprocuradora-geral Lindôra Araujo pede que sejam mantidas as condenações de Lula e reforme a decisão de Fachin, observando que os crimes atribuídos ao petista foram praticados no âmbito do esquema que depenou a Petrobras. Assinala que isso, por si só, é o reconhecimento da competência do juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, acrescentando que essa questão já foi analisada e rejeitada por outras instâncias jurídicas.
O ministro Edson Fachin adianta que ainda tem considerações complementares a fazer. Que as faça! Já o ministro Marco Aurélio de Mello continua a defender Sergio Moro, dizendo que o ex-juiz da Lava Jato não pode ser execrado como estão pretendendo, observando que Moro tem uma folha de serviços prestados ao país. Dizendo-se ainda perplexo, Marco Aurélio afirma que a decisão de Fachin é péssima para a imagem o STF. E mais uma vez o Brasil caminha num pântano de lodo. Quase tudo é lodo, a começar pela Justiça, que não merece ser chamada de Justiça, tal o número de decisões que tem tomado nos últimos anos quesempre plantam dúvidas. São figurinhas carimbadas. E já se sabe que, caso a suspeição de Moro seja confirmada na Segunda Turma do Tribunal (está 2 a 2), o novo relator de todos os pedidos contra o ex-juiz será o ministro Gilmar Mendes, o que é uma garantia de que a Lava Jato foi somente uma ficção, não passou de uma miragem para garantir a permanência eterna da corrupção no Brasil, esta, sim, sempre vencedora. Só falta agora condenar Sergio Moro à prisão, para a glória de muitos políticos desonestos que, ao que se vê, nunca desaparecerão da paisagem melancólica brasileira.
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