Só ouvimos falar em milhões de vacinas contra a Covid-19, mas onde elas estão?

O Brasil está entrando num colapso na área da saúde e a conversa continua, sempre as mesmas palavras, chegam a ser ameaçadoras

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 12/03/2021 12h13 - Atualizado em 12/03/2021 12h21
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EFE/EPA/JUNG YEON-JE / Archivo Vacina de Oxford/AstraZeneca Nesta sexta-feira, a Anvisa aprovou o registro definitivo da vacina de Oxford/AstraZeneca no Brasil

Só ouvimos falar em milhões e milhões de vacinas. Milhões e milhões. Vacinas de todo lugar. Todo dia, toda hora. Milhões de vacinas. Mas onde estão as vacinas? Quando o Brasil teve oportunidade de comprar com antecipação, não quis. Por questões políticas. Não quis. Só criou problemas para os fornecedores. E os outros países foram fazendo as encomendas, enquanto o Brasil ficou discutindo o sexo dos anjos, sem tomar medida nenhuma. À disposição, na época, em julho e agosto de 2020, só havia a CoronaVac, do laboratório chinês em parceria com o Butantan. Essa não podia. Essa era a vacina do Doria. No final, sobrou mesmo a vacina do Doria. Agora corremos atrás de vacinas, qualquer uma, e só ouvimos conversa. Dá para sentir a má vontade do governo em relação à vacinação dos brasileiros. Só conversa. Milhões e milhões de vacinas. Mas onde estão as vacinas?

Exatamente nesta quinta-feira, 11, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, reduziu pela quinta vez o número de vacinas para março. Quinta vez. Agora ele diz que ainda neste mês chegarão de 22 a 25 milhões de doses. Mas quem pode acreditar nisso? O ministro assegura que o Brasil não colapsou nem vai colapsar. É o contrário do que dizem os secretários da Saúde dos estados. Muitos secretários da saúde estaduais dizem que o colapso já existe. E as pessoas que vivem em torno do ministro dizem que ainda em março o Brasil chegará a 3 mil mortes por dia. Não pode. Isso não pode acontecer. Alguns governadores já estão propondo um pacto nacional contra a Covid-19, diante da inércia do governo que só fala e nunca resolve nada. Cada vez que o ministro chama a imprensa para falar, é para diminuir o número de vacinas a chegar. Sempre a mesma coisa.

O Brasil está entrando num colapso na área da saúde e a conversa continua. Sempre as mesmas palavras. Chegam a ser palavras ameaçadoras. E isso cansou. Os governadores, por exemplo, cansaram da mesma ladainha mentirosa. Mentirosa, sim. Desumana também. Os governadores criaram um consórcio para eles mesmos comprarem a vacina que falta por causa da inércia federal. Vão à Organização Mundial da Saúde para tratar do assunto, porque do jeito que está, a pilha de mortos vai aumentar mais, por falta de atendimento nos hospitais, por falta de vacinas, de UTIs. Agora está faltando até profissionais da saúde. Os governadores de 26 estados mais o do Distrito Federal estão marcando uma posição firme em relação ao presidente Jair Bolsonaro. Em outras palavras, isolarão Bolsonaro. Nada esperam do governo federal. Já acertaram até a compra da Sputnik V, da Rússia. Além disso, os governadores estão definindo uma ação com critérios estabelecidos para garantir a prioridade do país quanto aos imunizantes. Chega de conversa. A mesma conversa de sempre, que inclui até um certo deboche ao pobre mortal que usa sua máscara para proteger a si mesmo e aos outros.

O distanciamento de Bolsonaro começou com a carta que os governadores divulgaram na semana passada, assinada por aliados ferrenhos como Cláudio Castro (Rio de Janeiro), Ronaldo Caiado (Goiás) e Ratinho Júnior (Paraná) e outros. Muitos governadores não querem ficar mal com Bolsonaro, como afirma Renato Casagrande (Espirito Santo), mas não há outro jeito. Alguém precisa fazer alguma coisa para evitar o colapso total no país inteiro. Casagrande defende a criação de um grupo de trabalho junto ao Congresso Nacional para acompanhar a vacinação, o que já foi acertado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP). O objetivo desse grupo representa uma alternativa diplomática que dê ao Brasil a prioridade do envio das vacinas que não chegam nunca. Os governadores não descartam uma participação do Itamaraty nem um contato direito com os laboratórios internacionais. Casagrande, que é crítico do governo, lembra que até o próprio ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, já afirmou que poderemos chegar a três mil mortes por dia. Diante de uma informação assim, alguém precisa agir, já que o governo faz questão de se mostrar distante das discussões sobre a doença e a vacinação. Como se tudo fosse uma bobagem num país de covardes.

Por enquanto, a ideia dos governadores é comprar as vacinas e entregar ao Plano Nacional de Imunização (PNI). Mas é algo que ainda será discutido, porque a maioria não acredita mais na palavra do governo federal. Muitos reclamam que os problemas deveriam ter sido coordenados nacionalmente logo no início da pandemia. Ao mesmo tempo, alguns governadores querem desenvolver planos próprios no que diz respeito ao distanciamento social. Outra coisa que cansou definitivamente é essa contenda entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, como se os dois estivessem numa olimpíada em busca da medalha de ouro. Isso cansou. Não dá mais para aguentar, nem um nem outro. A ideia da união dos governadores se solidificou com o pronunciamento que Bolsonaro fez em Uberlândia, Minas Gerais, no dia 4, como sempre contra as medidas de restrição como defesa ao vírus. Em certo trecho, o presidente, com sua palavra áspera, disse que ainda há idiotas nas redes sociais e na imprensa que pedem para comprar vacina: “Só se for na casa da tua mãe”, disse Bolsonaro, aplaudido pela plateia favorável. Mas essa frase calou fundo em milhares de brasileiros. Então é assim que funciona?  Depois do pronunciamento do ex-presidente Lula, no mesmo dia, pareceu que Bolsonaro mudou o comportamento e passou até a defender a vacina. Uma farsa, porque continua a dizer as mesmas coisas de sempre. E nesta noite de quinta-feira, 12, o ministro da Saúde garantiu que até junho metade da população brasileira estará vacinada. Você acredita nisso?  

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