Salvação do debate foi Simone Tebet, que nada tinha a perder, mas ganhou
Se não fosse a desonestidade com que sua candidatura foi tratada desde o início, o país poderia ter um nome à altura para enfrentar essa afronta que é chegar em outubro e ter de votar em Lula ou Bolsonaro
O que é que a demoniocracia brasileira ganhou com o debate de ontem à noite? Foi muita expectativa para quase nada. A demoniocracia do país revela cada vez mais que tudo segue como vem seguindo há décadas. Para esta coluna, salvou-se dessa hecatombe a figura da senadora Simone Tebet, do MDB, candidata sabotada até dentro de seu próprio partido. Os melhores momentos do debate da Band, TV Cultura, Folha e Uol ficaram com ela, que nada tinha a perder. Mas ganhou. Se não fosse a desonestidade com que sua candidatura foi tratada desde o início, quando ainda se procurava uma terceira via, o país poderia ter um nome à altura para enfrentar essa afronta que é chegar em outubro tendo de votar em um dos dois nomes que significam esse país atrasado em suas convicções. Um provou ao longo do tempo ser adepto da corrupção deslavada, tanto que foi preso e descondenado, não inocentado de seus crimes como afirmou no debate. De outro lado, o atraso do atraso, com ideias que caberiam bem na Idade Média, o universo em que vive politicamente.
Simone Tebet venceu o debate, se é que se possa dizer assim. Se é que o debate teve um vencedor. Fora isso, bem fez o presidente Jair Bolsonaro (PL) que de cara partiu para cima de Luiz Inácio da Silva (PT) lembrando a corrupção de seu governo. Mas Lula não se perturba com isso. A corrupção faz mesmo parte de sua história. Ele se limita a apenas dizer que as acusações não são verdadeiras. Bolsonaro insistiu no assunto, dizendo, na verdade, o que todo mundo sabe da ladroagem petista no governo Lula. E Lula teve a coragem de dizer que era indescritível o que estava ouvindo. Só lhe faltou uma auréola na cabeça. Mas Bolsonaro também sofreu ataques e críticas especialmente do candidato Ciro Gomes (PDT), no que se referia ao período da pandemia em que a atuação do atual presidente da República não foi somente lastimável, foi repulsiva. Enquanto milhares de brasileiros morriam até nas calçadas diante dos hospitais, Bolsonaro se divertia com seu jet ski no Lago Paranoá em Brasília. Já Bolsonaro teima dizer que o Brasil foi o país que mais se destacou no programa de vacinação contra a doença. Não é possível ouvir coisas assim sem se indignar.
Na verdade verdadeira, esse tipo de encontro mais parece uma festa onde todos se juntam para trocar ofensas, dando a impressão aos desavisados que tudo aquilo é sério. É assim que caminha a demoniocracia brasileira. Representa um tapa na cara do cidadão aquele riso cínico de Lula, enquanto era acusado. O riso mais cínico ocorreu no momento em que foi lembrado o assalto à Petrobras. Lula não esqueceu daquela frase que ficou famosa pelo que representa na falsidade das atitudes que teve quando foi presidente por duas vezes: “Nunca na história deste país…”. É, ele não esqueceu sua frase para dizer que seus governos foram os mais competentes do Brasil. Pobre país. No final de tudo, o debate se resumiu em discutir a corrupção e ataque às mulheres. Sim, a figura da mulher foi desrespeitada no debate, como é sempre em todo lugar, especialmente na sordidez da política brasileira. A senadora Simone Tebet venceu o debate, se é que a expressão cabe nesse cenário melancólico. Mas ficou com Ciro Gomes as frases mais contundentes e verdadeiras. Foi impossível não rir quando Ciro afirmou que Lula é um encantador de serpentes. E coube a Ciro afirmar, apontando para Lula e Bolsonaro, para lembrar “os que vivem da mentira para dividir o país”. A demoniocracia vai bem, obrigado.
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