Se a capitã cloroquina decidir falar na CPI da Covid-19, será um espetáculo no Circo Brasil

Lewandowski deixou claro que Mayra Pinheiro tem o direito de não responder a questões que possam criar provas contra ela, mas terá de explicar qual era o papel que desempenhava no Ministério da Saúde

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 24/05/2021 13h51
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Foto de perfil de mulher falando no microfone. É branca de cabelos loiros e fala em um microfone pequeno. Ela usa uma máscara de proteção do SUS O depoimento de Mayra Pinheiro à CPI da Covid-19 está marcado para esta terça-feira, 25

O espetáculo continua no grande circo Brasil! Respeitável público, tome seus lugares, o show vai recomeçar! E obrigado por todos comparecerem vestidos de palhaço! Isso dará maior alegria ao nosso encontro! Com vocês, a Capitã Cloroquina, que vai abrilhantar nossas festividades! Mayra Pinheiro, a “Capitã Cloroquina”, foi a Secretária de Gestão e do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, trabalhando diretamente com então ministro general Eduardo Pazuello. Mas, entre nós, o espetáculo de amanhã, terça-feira, 25, será lastimável, porque a “Capitã Cloroquina” já conseguiu um habeas corpus para não responder pergunta nenhuma que possa comprometê-la. Habeas corpus cedido pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski, figura generosa com os bandidos do país, sempre uma mão amiga que se estende especialmente aos grandes corruptos que delapidaram o Brasil, roubando ininterruptamente tudo que lhes era possível. Mayra Pinheiro não responderá perguntas referentes ao período de dezembro de 2020 a janeiro de 2021, o mais funesto de toda esta bandalha. Os fatos desse período estão sendo investigados pela Polícia Federal do Amazonas e tem como alvo principal essa figura eminência parda que é a chamada Capitã Cloroquina. 

O apelido vem de seu empenho pelo uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, comprovado totalmente ineficaz contra a doença. Mayra estava em todos os eventos com seus pacotes do medicamento, fazendo distribuição a todo mundo ao mesmo tempo em que negava a vacina, a exemplo de seus chefes na República Federativa do Brasil. Chegou-se a um ponto intolerável: enquanto os doentes da crise de Manaus morriam de asfixia, por falta de oxigênio, a Capitã distribuía cloroquina à população e até mesmo aos médicos da cidade. Ela é também alvo de investigação na mesma ação que apura os fatos envolvendo o ex-ministro general Pazuello. Mas Mayra está disposta a não falar absolutamente nada no depoimento à CPI. Ninguém sabe se ela terá coragem de cumprir o que vem dizendo. A Capitã também participava do que vem sendo chamado de “Ministério da Saúde paralelo”, que está sendo investigado. Ela terá de falar sobre uma plataforma do Ministério da Saúde, o TrateCov, recomendado como tratamento precoce, como gosta de falar o presidente Bolsonaro

De acordo com o depoimento do general Pazuello, o TrateCov foi ideia da Capitã e chegou a ser divulgado pelo Ministério da Saúde como o medicamento eficaz contra o coronavírus. Os senadores da oposição afirmam que o caos ocorrido em Manaus, com dezenas de mortos, foi provocado pela ação do governo, que eles consideram inadequada e ilegal. À frente desse caos estava a figura de Mayra Pinheiro, distribuindo cloroquina e tomando decisões das mais absurdas naquele cenário de morte e intenso sofrimento de famílias que imploravam por atendimento. A Capitã está decidida a não responder pergunta de ninguém, mas demonstra receio de sair presa da CPI. O ministro Lewandowski, do STF, deixou claro que a Capitã tem o direito de não responder somente a questões que possam criar provas contra ela. Mas terá de explicar sem reservas qual era o papel que de fato desempenhava no Ministério da Saúde, já que, conforme se informa, estava sempre à frente de tudo.

A Capitã pegou a Covid, mas conseguiu se curar. E colocou no seu Facebook que se curou usando ivermectina, hidroxicloriquina, bromexina, azitromicina, zinco, vitamina D e proxalutamida. De volta ao Ministério, criou o TrateCov e começou a ganhar projeção. Antes de ser a Capitã, Mayra Pinheiro, que é médica pediatra, foi presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará e esteve à frente das manifestações contra o programa “Mais Médicos”, da então presidente Dilma Rousseff, criticando ferozmente a contratação de médicos vindo especialmente de Cuba. Se a Capitã decidir falar, o espetáculo será um acontecimento no Circo Brasil. Mas ninguém sabe ainda do que a Capitã Cloroquina é capaz. Também ela tem o compromisso de não acusar ninguém. Pelo contrário: terá de proteger os grandes protagonistas do show. Deverá mentir, a exemplo dos outros personagens que já se apresentaram no circo. Mas se o próprio país é uma grande mentira, está tudo correto.

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