TSE ou Forças Armadas, quem vai se curvar nessa disputa que nunca termina?

O general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, afirma que os militares se sentem desprestigiados após propostas de mudanças no processo eleitoral terem sido rejeitadas

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 13/06/2022 14h25 - Atualizado em 13/06/2022 22h32
Divulgação/Ministério da Defesa - 02/06/2022 Ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, acompanhou as ações da Operação Ágata Norte 202 O general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, acompanha ação contra o narcotráfico

É exagero dizer que as eleições de outubro correm perigo de não ser realizadas? Este colunista começa a coluna desta segunda-feira, 13, com essa interrogação que está na cabeça de muita gente. Os inimigos cordiais dirão que o colunista é um pessimista. Ou louco. Na verdade, é pessimista por opção, já que vive no Brasil, e o Brasil é um país que não deu certo. Nem vai dar enquanto os vândalos da política continuarem dando ordens e fazendo as barbaridades costumeiras, cada um ao seu modo. Será que vai ter eleição em outubro? Muita coisa está ainda por acontecer, especialmente por causa das urnas eletrônicas. Essa discussão não vai terminar nunca. Na sexta-feira, 10, jogou-se mais combustível explosivo na fogueira que poderá inviabilizar a disputa. E de maneira contundente. Mais uma vez, o petardo contra o Tribunal Superior Eleitoral partiu do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, que apertou mais um pouco o botãozinho da guerra. Foi uma tréplica sobre o assunto. Nogueira afirmou que as Forças Armadas não se sentem devidamente prestigiadas. O documento enviado ao TSE rebate as análises realizadas pelo tribunal que, conforme observou, apontou erros de cálculos e confusões de conceitos ao rejeitar, em maio, sete propostas dos militares de mudança nos procedimentos das eleições.

Isso vai longe. Vai muito longe. Quem vai se curvar, o TSE ou as Forças Armadas? Ou será melhor destruir todas as urnas eletrônicas e fazer a eleição com cédulas de papel. Ao mesmo tempo, o presidente Bolsonaro não para de falar contra o processo eleitoral e vem o questionando cada vez mais, insinuando intenções golpistas dos que defendem a urna. Aliás, já deixou de ser insinuação. O presidente fala em golpe abertamente. Se a urna eletrônica é tão boa, por que não é utilizada por outros países como o Japão, Coreia do Sul, França, Inglaterra, pontua o chefe do Executivo. Bolsonaro observa que a urna eletrônica é usada somente no Brasil, Blangladesh e Butão. “Tem algo esquisito lá dentro”, diz ele, acrescentando que o Brasil não pode fazer eleições com essas suspeições. O presidente prefere não dizer se aceitará ou não os resultados das eleições deste ano, mas afirma que não pode haver desconfianças que permitam uma revolta do lado perdedor. Assinala que “dá tempo ainda de termos eleições limpas”. 

Já o ministro da Defesa diz que o TSE não examinou tecnicamente as propostas dos militares. Agora a discussão entrou no morde e assopra. Por isso, o general Paulo Sérgio Nogueira afirma que as Forças Armadas se sentem desprestigiadas, embora tenham “atendido ao honroso convite do TSE para integrar a Comissão de Transparência das Eleições (CTE)”. Tem até sigla. Tudo que parece importante no Brasil consegue uma sigla. O Brasil tem um monte delas esperando a vez. Nogueira afirmou ainda, no documento enviado ao TSE, que é sabido que qualquer sistema eletrônico precisa ser atualizado. Não basta, portanto, a participação de observadores visuais, sejam nacionais ou estrangeiros. Do seu lado, Bolsonaro continua com seu discurso, que não vai mudar. Diz que o TSE tem tomados medidas arbitrárias contra o Estado democrático de direito e atacado a democracia. O presidente passou a repetir com todas as letras que o tribunal não quer transparência na eleição. 

A verdade é que essa questão está se aproximando cada vez mais de um ponto insustentável. Não é possível levá-la adiante. O tom sobe cada vez mais. Mas esta semana promete emoções mais fortes. O TSE não ficará calado. Vai responder no mesmo tom. É possível dizer, sim, que as eleições de outubro correm perigo. Há muito ainda por acontecer. Essa discussão tem o poder de desagregar tudo. E, como todos sabemos, desagregação no Brasil é coisa de rotina.

 

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