A bola de cristal furada de Guido Mantega e o risco Lula
Um grave temor a respeito do eventual retorno do petista ao poder é a soberba dos economistas que o assessoram
Quem tem menos de 30 anos não associa na memória os estragos operados na economia brasileira de 2006 para cá e o nome Guido Mantega. Ministro da Fazenda entre 2006 e 2014, foi afastado em 2015 junto com a promessa, feita pela então presidente Dilma Rousseff, de que reveria os rumos da economia brasileira. Já era tarde. Os estragos operados por Mantega não tinham conserto e a recessão começada em 2014 se intensificou entre 2015 e 2016. Dilma afastada e Temer empossado. Medidas como PEC do teto de gastos entram em cena para conter o dano. E cá estamos nós até agora envoltos num cenário de perpétua e árdua recuperação, infelizmente interrompido pela pandemia, como se não bastasse a herança maldita da era lulopetista na conta nefasta do brasileiro médio.
Mas Guido Mantega, do alto de sua soberba, publicou na última terça-feira, 4, na “Folha de S.Paulo”, um artigo afirmando que o “bolsonarismo teria levado o Brasil à crise, da qual o país só poderá sair com seu fim”. Para piorar, lança uma série de previsões furadas sobre um futuro econômico próximo, visando intensificar num leitor pessoalmente antipático ao atual presidente a impressão de que tudo está perdido. Que maravilha se a bola de cristal de Guido Mantega o tivesse orientado melhor enquanto foi ele ministro da Fazenda, não? Ele teve oito anos para mostrar o que sabia. Mostrou que não sabia era nada. O autor da “nova matriz macroeconômica”, que deixou de lado o bem-sucedido tripé de medidas graças às quais o país funcionava razoavelmente, justamente esse senhor, em plena pré-campanha, aparece para abrir a boca condenando o trabalho de Paulo Guedes, o autor da reforma estruturante mais impactante da história econômica brasileira nas últimas décadas: a nova Previdência, aprovada em 2019.
Guido Mantega tem a cara de pau de associar a era PT ao crescimento econômico que o Brasil, ao lado de outras nações, experimentou durante o boom das commodities. Não diz, é claro, que o Brasil foi o país que menos se beneficiou daquele cenário mundial favorável justamente porque ele e seus colegas de partido estavam no poder. Também não diz que, durante a pandemia, foi justamente o mercado das commodities que manteve o setor produtivo brasileiro funcionando, evitando as perdas irreparáveis ocorridas no setor de serviços, o que mais sofreu com as medidas restritivas. Induz o leitor (jovem, despreparado e sem memória) ao engano, fingindo não saber que o atual cenário econômico é fruto de uma equação complicada: a) a herança de gasto público desenfreado praticado ao longo da gestão petista, da qual ele próprio foi um dos principais ministros; b) a dificuldade do governo Temer em reverter o quadro de terra arrasada legado pela gestão petista com reformas estruturantes de alto impacto; c) a interrupção do pacote de reformas estruturantes planejado por Paulo Guedes em virtude da pandemia, cujos efeitos obrigaram o atual governo a entrar em economia de guerra: liberação emergencial de recursos em grande escala somada à pausa na tramitação de reformas econômicas.
Seria interessante ver o ex-ministro Guido Mantega despejando o mesmo balde de pérolas num evento do agronegócio, por exemplo. Como ele seria recebido? Com vaias, tomatadas ou gargalhadas sinceras? Grupos políticos que dependem da falta de memória do eleitor para se manter na disputa eleitoral adoram o público jovem. Usam frases de efeito e aderem a modismos superficiais feitos para comover corações imaturos. Com adultos, não têm vez. Tampouco com gente estudiosa, que suplanta a pouca idade com muito estudo e ouvidos abertos aos mais experientes. Eu queria ver mesmo é essa bola de cristal furada de Mantega brilhar para além das salinhas de redação militante, para lá de um campo aberto, pleno de realidade, cultivado por todos os agricultores que, a despeito das presentes dificuldades, são hoje o carro-chefe da economia brasileira. Grupo esse que, diga-se de passagem, não é lá muito simpático ao candidato daquele que foi um dos piores ministros da Economia que o Brasil já amargou. E olha que, nessa seara, a concorrência é braba!
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