Sexting e jovens na quarentena: Como os pais podem lidar com a vida sexual dos filhos na internet
O sexting, enquanto comportamento sexual, é algo que vem se tornando cada vez mais comum entre os jovens, podendo vir até a ser a porta de entrada para uma vida sexual ativa
No texto anterior, abordei como a pandemia do novo coronavírus vem modificando os comportamentos sexuais dos adultos em isolamento social, focando na questão do chamado “sexting”. Mas existe uma outra faceta deste comportamento, que é sua relação com as gerações mais novas, intensamente conectadas ao mundo digital e que, por consequência, estão mais propensas, em idade precoce, a explorar sua sexualidade por intermédio da internet. Apenas relembrando, sexting é um termo inglês que vem da junção das palavras sex e texting, e que significa “sexo por mensagens de texto”, mas que atualmente ganhou um conceito mais amplo, como o compartilhamento de imagens e vídeos.
Em 2018, foi publicada uma revisão de literatura analisando pesquisas sobre a presença de sexting na vida dos jovens. Os pesquisadores coletaram dados de 39 estudos independentes, totalizando uma amostra de mais de 110 mil jovens. Como esperado, o meio mais comum de sexting era o celular, sendo que 15% dos jovens relataram já ter enviado sexting, e 27% relataram já ter recebido. Esses percentuais eram tanto maiores quanto mais velhos eram os participantes, o que indica uma certa “normalização” desse comportamento conforme esses adolescentes vão ficando mais velhos. Um dado preocupante é que aproximadamente 12% dos jovens compartilharam o sexting sem o consentimento do outro.
Esses dados nos mostram que o sexting, enquanto comportamento sexual, é algo que vem se tornando cada vez mais comum entre os jovens, podendo vir até a ser a porta de entrada para uma vida sexual ativa. A questão que obviamente paira é: o que os adultos e pais podem fazer com essa informação? A verdade é que vivemos uma enorme disparidade geracional: muitos dos pais e mães que têm filhos jovens provavelmente não entraram em contato com esse tipo de comportamento quando eram jovens. Além disso, o mundo virtual é um fenômeno irreversível e não adianta negá-lo! Não é recomendado “demonizar” esse tipo de comportamento, tomando medidas drásticas, tais como privar o jovem de seu celular e meios de contato digital.
Devemos sempre lembrar que a sexualidade se impõe, e – quer queira, quer não – uma espécie de “força” biológica natural incide vigorosamente sobre os adolescentes. O papel dos pais deve ser o de guiar e recomendar, ajudando os filhos a entenderem o que realmente está em jogo no que se refere a um determinado tipo de comportamento sexual, e, principalmente, apontar quais os perigos envolvidos, a exemplo da exposição virtual que estarão sujeitos. Vale também estimular os jovens a não desprezarem os laços sociais e emocionais que são produzidos no mundo real. A intimidade não é algo para ser vivido publicamente e o virtual nunca substituirá o prazer do amadurecimento a partir do encontro, a expressão do corpo e do olhar. Como eu disse, é fundamental que os adultos não percam a oportunidade de criar um canal de comunicação com os jovens e que, com isso, possam inclusive auxiliar os adolescentes a elaborarem o incômodo provocado por algo desconcertante. Se a situação apertar, se os adultos sentirem que há algo que não pode ser simplesmente relevado, procure uma ajuda profissional. Nesses momentos, o apoio de profissionais de saúde mental pode ser crucial!
Se quiser sugerir algum tema para as próximas colunas, escreva para mim: dracamila@jovempan.com.br. Até a próxima!
*Dra. Camila Magalhães é médica psiquiatra, com doutorado pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, e escreve sobre saúde mental, comportamento e bem-estar.
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