Cristãos deixam norte do Iraque por perseguição de jihadistas

  • Por Agencia EFE
  • 07/08/2014 18h01

Yasser Yunis.

Mossul/Bagdá, 7 ago (EFE).- Os militantes da organização radical islâmica Estado Islâmico (EI) continuam avançando pelo norte do Iraque nesta quinta-feira e encontrando várias cidades de maioria cristã vazias, devido ao êxodo de milhares de pessoas que fogem com medo de sofrerem perseguição ou serem assassinadas.

ONGs independentes de direitos humanos calculam em mais de 120 mil o número de cristãos que saíram de Qaraqosh (maior cidade cristã do Iraque) e Telkif nas últimas horas, para fugir do EI, rumo à Arbil e Dohuk, na região autônoma do Curdistão iraquiano. Ontem à noite, os combatentes do EI tomaram o controle de várias cidades de maioria cristã na província de Ninawa, após expulsar as tropas curdas em combates.

“Durante a noite, ficamos sabendo que os jihadistas estavam a cerca de seis quilômetros de nós. Todos fugiram para a região de Jazar, rumo ao Curdistão iraquiano”, afirmou à Agência Efe Maha Qahuayi, uma cristã de 38 anos vinda de Karmalis, em Qaraqosh, sobre como os radicais entraram na cidade.

O medo se apoderou dessas famílias, principalmente quando escutaram o intenso tiroteio e as vozes dos terroristas gritando “Allahu Akbar” (“Alá é grande”, em português).

Os jihadistas também conseguiram controlar as áreas de Bertala, Al Kuir e Bashiqa, compartilhadas por muçulmanos e cristãos e que ficam próximas da fronteira de Arbil, capital do Curdistão, informou à Efe o chefe do comitê de segurança em Ninawa, Mohammed al Bayati.

Ele acrescentou que os combatentes radicais fizeram o controle de Mossul, que conecta a província de Dohuk, após violentos confrontos com os “peshmergas”, ou tropas curdas.

O EI controla Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, e desde 10 de junho luta no norte do país para ampliar seu declarado “califado”. Há três dias, o grupo tomou a população de Sinjar, onde desencadeou uma crise humanitária denunciada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Milhares de pessoas da minoria curda yazidi que residiam em Sinjar se refugiaram nas montanhas e permanecem ali sem água ou alimentos, tendo que comer folhas de árvores em uma tentativa desesperada por sobrevivência, segundo o portal de notícias curdo “Rudaw”.

O porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, David Swanson, denunciou à Efe que milhares de deslocados iraquianos nesses montes precisam “urgentemente” de água, comida, refúgio e remédios. Ele alertou desta situação e da dos quase 200 mil deslocados, em sua maioria yazidis, que fugiram nos últimos dias rumo ao Curdistão escapando da ofensiva jihadista.

Já há mais de 300 mil deslocados e 230 mil refugiados sírios no Curdistão, o que faz desta situação um “desastre de imensas proporções”, afirmou o representante da ONU.

A assessora da Anistia Internacional (AI) Donatella Rovera, que, atualmente, está no norte do país, detalhou que a situação é cada vez mais “desesperadora” para os iraquianos, principalmente os que pertencem às minorias yazidi e cristã.

Como consequência do aumento de deslocados, o governo do Curdistão tomou estritas medidas de segurança para a entrada das famílias por medo de radicais do EI infiltrados. Espera-se que as autoridades do Curdistão levantem um acampamento na região de Ainkaua, que abrigará grande número de famílias. EFE

já/cdr/id

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.