Até onde a Selic pode subir? Copom precisa resolver dilema na reunião desta semana

Novo aumento na taxa de juros pode limitar o crescimento da economia sem compensar perdas, mas o risco de não conter a inflação é deixar as pessoas sem o suficiente até para despesas básicas

  • Por Denise Campos de Toledo
  • 20/09/2021 14h21
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Guilherme Dionízio/Estadão Conteúdo - 05/08/2021 Moedas de R$ 1 formam o mapa do Brasil; do lado direito, há três notas de R$ 2 e uma de R$ 50 Mercado especula um ajuste maior da Selic na reunião desta semana do Copom

A semana começa na expectativa da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) em relação à alta da taxa básica de juros. É certo que haverá um novo aumento da Selic, necessário para que se possa calibrar a evolução do consumo e das expectativas, de forma a desestimular reajustes de preço e fazer com que a inflação retorne para uma trajetória compatível com a meta. Isso é ruim porque pode limitar o crescimento, sem que a economia tenha conseguido se recompor de todas as perdas e retrocessos decorrentes da pandemia. O problema é que a inflação também é muito nociva nesse sentido. Eleva o custo das empresas, atrapalhando a expansão dos negócios e até contratações. Por outro lado, aumenta o custo de vida, também limitando o consumo, só que de uma forma ainda mais perversa. Com inflação muito alta, as pessoas deixam de ter o suficiente até para despesas básicas. Já os juros afetam mais o consumo a prazo, que depende do crédito.

É nesse contexto que temos visto o Banco Central pisar no acelerador da elevação dos juros básicos, enquanto o mercado eleva as apostas quanto ao tamanho do ajuste total, necessário para assegurar uma evolução mais benigna da inflação. Com os índices superando as expectativas, como aconteceu com o IPCA de agosto, com alta de 0,87%, o mercado passou a especular não só com um ajuste maior da Selic até o fim do processo, mas também com um ajuste maior na reunião desta semana do Copom, chegando a cogitar uma alta de 1,25 ou até de 1,5 pontos percentuais como forma de o Banco Central reafirmar o compromisso com o controle da inflação.

Só que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, esfriou bastante essas apostas. Em evento na última semana, admitiu que a taxa vai aonde for necessário para garantir a meta. Mas também afirmou que não vai mudar o plano de voo cada vez que um índice mostrar a inflação mais pressionada. Pois bem, o plano de voo sinalizado para esta reunião é de um aumento de um ponto na Selic, que iria a 6,35% aa. A questão é que, para a reunião anterior, o Copom tinha previsto um aumento de 0,75 e acabou elevando a taxa em um ponto. Nada impede que não confirme a própria projeção também desta vez. Principalmente com o comportamento atual da inflação comprometendo também as expectativas para 2022. Este ano já está perdido em relação à meta. O relatório Focus desta segunda trouxe a previsão média do IPCA em 8,35% para 2021, superando muito o teto da meta, que é 5,25%. Só que a previsão média para o ano que vem subiu para 4,10%, afastando-se mais do centro da meta (3,25%). Como o Copom sempre cita a necessidade de fazer as projeções convergirem para o centro da meta, talvez, tenha de promover um ajuste mais pesado da Selic. Por enquanto, o mercado prevê a taxa em 8,25% no final do ano, chegando a 8,5% no ano que vem.

Daí a incerteza em torno da decisão desta semana, do comunicado que virá com o anúncio da nova taxa e na ata da reunião, que sai na semana que vem. É certo que não há uma inflação de consumo, que é a que responde mais à elevação dos juros. Estamos tendo sucessivos choques do lado da oferta, com alta das commodities, de insumos para a indústria, de alimentos — com a safra prejudicada pelo clima —, por aumento das tarifas de energia, pelo impacto do dólar mais alto na formação de vários preços (e a divisa pode se manter em patamar mais elevado pelo ambiente político e incertezas externas e fiscais). Só que também temos as empresas querendo repassar os aumentos de custos e até recuperar margens de ganho se a demanda absorver. E é por aí que os juros podem ter mais efeito, não só por encarecerem o crédito, segurando o consumo, mas também por mexer com as expectativas. Uma menor confiança na capacidade de controle da inflação estimula a antecipação de aumentos, reforçando até a indexação.

Agora é aguardar a decisão do Copom. Detalhe: além dos juros mais altos, o custo do crédito também passa a refletir, nesta semana, a elevação do IOF, o imposto sobre operações financeiras. Medida tomada pelo governo para fazer caixa e poder ampliar o Bolsa Família, agora como Auxílio Brasil, ainda neste ano. Pela Lei de Responsabilidade Fiscal, não é possível aumentar despesas permanentes sem ter ampliação de receita. Em princípio, o aumento do imposto vai só até o final do ano. Para 2022, o governo conta com a taxação de lucros e dividendos, prevista na Reforma do Imposto de Renda, embora haja dúvidas quanto ao efetivo aumento da arrecadação, e ainda espera a aprovação da PEC dos Precatórios, que pode postergar o pagamento das sentenças judiciais de maior valor, abrindo brecha até no teto de gastos para as despesas com o programa social. São pautas que também poderão avançar na agenda da semana. Em meio a todos esses fatores, o mercado continua cortando as projeções de crescimento, especialmente para 2022. A expectativa média de expansão do PIB em 2021 caiu para 5,04%, e a do próximo ano, para 1,63%, com muitos analistas de mercado e consultorias já considerando avanço inferior a 0,5%.

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