Juros em alta reduzem pressão e volatilidade do mercado
Na última reunião do Copom, taxa Selic foi elevada pela segunda vez em 0,75 ponto percentual; em comunicado, comitê já falou em novo aumento, do mesmo tamanho, em junho
A elevação da taxa Selic pelo Banco Central, com a indicação de continuidade desse movimento, tem colaborado para uma menor volatilidade do mercado. A questão é que os juros, baixos como estavam, com a taxa básica em 2% ao ano, eram incompatíveis com a atual conjuntura econômica. O país tem vários fatores de risco que levam à necessidade de um prêmio maior a ser pago para evitar pressões maiores sobre a curva de juros ou fuga de capital externo, além, é claro, de garantir uma maior segurança quanto ao controle da inflação. Afinal, o principal foco do BC, ao definir os rumos da política de juros, é fazer com que a inflação fique nos parâmetros da meta, e que haja uma convergência das expectativas nesse sentido. Sem ancorar as expectativas, insistindo em juros baixos demais, acaba-se por gerar movimentos que podem ter impacto na própria inflação e até na atividade econômica. A pressão da curva de juros encarece a colocação de títulos públicos e o custo do crédito, independentemente do nível da Selic. Por outro lado, um prêmio de risco baixo afugenta os investidores e traz pressões sobre o câmbio, sendo que o dólar interfere em muitos preços, impactando a inflação.
É bem possível que o Banco Central promova apenas a normalização parcial, como indicou no comunicado da última reunião do Copom, quando elevou em 0,75 ponto, pela segunda vez, a taxa Selic, já falando em novo aumento, do mesmo tamanho, em junho. A normalização parcial pode fazer com que o ajuste no ano ainda mantenha a taxa muito próxima da inflação, sem fazer com que o país volte a ter juros reais. O último relatório Focus, que confere a média das expectativas do mercado para os principais indicadores da economia, trouxe a elevação da projeção de inflação, pela quinta semana consecutiva, para 5,06%, enquanto a projeção para a Selic no final do ano ficou em 5,5%. Vale observar que até lá, certamente, os juros básicos vão continuar rodando abaixo da inflação que, antes de começar a desacelerar, pode chegar a um acumulado em 12 meses perto de 8%.
Mas apenas a indicação da continuidade na elevação da Selic já colaborou, como destaquei anteriormente, para um comportamento mais favorável do mercado, especialmente do câmbio. Junto com o fluxo de dólares das exportações, favorecidas em boa parte pelo aumento dos preços das commodities no exterior, a alta da Selic conseguiu minimizar a influência das preocupações que persistem do lado fiscal e dos ruídos políticos, como os da CPI da Covid-19. O dólar desde abril vem numa tendência de queda, com a cotação se aproximando dos R$ 5,20, além de menos pressões na curva de juros. Vale observar que o cenário externo também ajudou, com a retomada de grandes economias, especialmente os Estados Unidos, sem muito risco, por enquanto, de pressões inflacionárias, que levem à alta dos juros pelo Banco Central de lá. Os emergentes, de um modo geral, saíram ganhando, com menos aversão ao risco, e o dólar também cedeu frente a outras moedas. Para ajudar no contexto mais favorável do mercado, a safra de balanços tem vindo com bons números e a alta projetada para os juros não parece suficiente para comprometer a Bolsa, que também teve a última semana positiva.
É certo que só os juros em alta não asseguram um movimento mais positivo do mercado. Nesta semana temos vários fatores que já começaram a produzir alguma pressão, aqui e no exterior. A pandemia é um grande fator de incerteza, assim como pressões por mais gastos vindas do Congresso e de alas do governo. Ainda tem pressões de fora e dificuldades pontuais. Mas é inquestionável o impacto positivo que a retomada da alta dos juros vem tendo sobre o comportamento geral do mercado. Por mais que a economia ainda precise de estímulo, forçar a mão com juros muito baixos chega a um ponto em que começa mais a atrapalhar do que ajudar, fora o riscos de as pressões inflacionárias de curto prazo se tornarem persistentes. Tanto que há possibilidade de o IPCA fechar 2021 encostado no teto da meta. As mexidas agora nos juros devem ter mais reflexo na inflação de 2022, por enquanto, prevista em 3,61% ante o ponto central da meta de 3,5%.
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