PIB e inflação mexem com as expectativas para a reunião do Copom
Por mais que o ambiente econômico esteja favorável, os receios em relação aos preços altos podem levar a uma mudança da política de juros
Nesta semana tem reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) para definir, na quarta-feira, 16, a nova taxa básica de juros, a Selic. O consenso é que o Copom mantenha o que sinalizou na reunião anterior, mais um aumento de 0,75 ponto percentual, com a Selic indo a 4,25% ao ano. O comitê não tem contrariado os recados que passa para o mercado. Mas é justamente por aí que agora se espera algum mudança … No tom do recado quanto aos passos futuros da política monetária. A inflação mais alta que o previsto reforçou as especulações quanto ao ajuste total que se pode esperar da Selic. Já se previa um avanço mais forte do IPCA em maio, pela mudança na bandeira tarifária de energia para a vermelha nível 2. Só que a alta de 0,83%, superou bem a média das projeções. O índice mostrou aumentos mais generalizados, com algumas surpresas, como a alta da gasolina e da alimentação fora do domicílio. O fato é que a persistência das pressões inflacionárias, ainda que o dólar tenha dado alguma trégua, traz preocupações não só para este ano, mas também para 2022.
Percebe-se que as pressões mais fortes não vêm apenas da sazonalidade ou da alta das commodities, que tem relação com a demanda externa. É uma sucessão que vem mantendo a inflação em patamar mais elevado, mesmo com o IPCA rodando bem abaixo dos IGPs, que acumulam avanço de mais de 30% em 12 meses. O do IPCA está ao redor de 8%. Mas a alta dos preços em maio só reforçou as revisões pra cima das projeções para o ano, contaminando também as de 2022. O relatório Focus apontou uma previsão média do mercado de 5,82% para o IPCA deste ano, se afastando cada vez mais do teto da meta, que é 5,25% (e de 3,78% para 2022). Esse movimento leva a questionamentos maiores quanto a política de juros do Banco Central. Embora se conte com a alta da Selic para 4,25% na reunião desta semana, há uma forte expectativa quanto ao comunicado que virá junto com a decisão — se manterá a indicação de uma normalização parcial dos juros. É por aí que ganham força os questionamentos. Boa parte dos analistas de mercado defende uma normalização total dos juros, que poderia levar a taxa básica para 6,25% ainda neste ano, como já projetou o relatório Focus.
Nesse contexto de discussões quanto à política monetária, também pesa a previsão de expansão maior da economia, que, segundo a média das projeções do mercado, pode chegar a 4,85% no ano, sendo que muitas instituições já preveem mais de 5%. Economia mais aquecida pode dar mais espaço para repasses de aumentos de custos para o varejo, fora a recomposição de margens de ganho. A própria pressão do custo da energia, diante da crise hídrica, tende a ser um fator de pressão ao longo do ano, assim como a manutenção dos preços das commodities em patamar mais alto no exterior. Enfim, a inflação está incomodando mais, independentemente do clima de maior confiança quanto ao desempenho da economia.
Nas análises dos fatores conjunturais, que podem influenciar a política de juros, ainda restam incertezas fiscais e em relação às reformas. Embora caiba a ressalva de uma certa melhoria das finanças, tanto pela previsão de retomada mais firme da atividade quanto da própria inflação. A projeção da relação dívida versus PIB, que chegou à faixa dos 100%, agora está ao redor de 85%. É uma diferença importante. E expansão maior reforça a receita tributária. Só que não ocorreram mudanças estruturais e há pontos em aberto, como a provável prorrogação do auxílio emergencial. Mesmo que seja extra teto, não ajuda a dar maior confiança quanto à evolução das finanças públicas, sendo esse um ponto sempre citado pelo Copom, além do próprio comportamento da inflação.
Por outro lado, as reformas, da maneira como vêm sendo encaminhadas, podem até gerar ânimo do mercado, mas não a ponto de criar perspectivas mais positivas, de curto e médio prazos, em termos fiscais. O discurso político do que “é possível fazer” reduz as expectativas mais otimistas quanto ao tamanho das mudanças que se esperam. O fato é que, por mais que o ambiente econômico esteja mais favorável, os receios em relação à inflação podem levar a uma mudança da política de juros. Uma alteração na sinalização do Copom nessa questão da normalização parcial ou total dos juros, um discurso mais firme, preocupações maiores, já podem ajudar a conter a piora das projeções, levando a uma maior convergência para a meta do próximo ano. Agora é aguardar até o começo da noite de quarta. A palavra está com o comitê do Banco Central.
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