Só o combate à pandemia define o melhor rumo para a economia

Agenda de reformas fica em segundo plano, empresários se conscientizam e até o comércio já aceita melhor as medidas restritivas de combate à Covid-19

  • Por Denise Campos de Toledo
  • 22/03/2021 15h38
Marlon Costa/Futura Press/Estadão Conteúdo - 21/03/2021 Avenida vazia no Recife Com medidas de restrição, ruas do Recife (e de diversas cidades brasileiras) ficaram vazias no final de semana

Estamos numa fase de forte impasse para a economia, cujo desfecho depende, fundamentalmente, da capacidade de o Brasil lidar com a pandemia que, por enquanto, está ganhando o jogo. Não tem mais aquela conversa entre preservar atividade e empregos ou tomar medidas restritivas. O desafio maior agora é salvar vidas para que a economia comece a respirar melhor. A agenda de reformas e outras medidas estruturantes ficam em segundo plano. A população, em sua maior parte, está assustada, com medo do contágio. O comércio já aceita melhor a necessidade de fechamento, embora tenha de enfrentar, em muitos casos, uma situação financeira insustentável. Empresas como a Volkswagen até estão suspendendo os trabalhos por proteção. Os empresários se conscientizaram do desastre que representa a Covid-19 do ponto de vista humanitário, não só econômico.

Tivemos, no último final de semana, a divulgação de uma carta de 500 economistas —uma boa parte já passou pelo governo — que acabou contando com adesão muito maior do que a esperada, inclusive de banqueiros e empresários, defendendo uma postura política diferente da do governo, que vai desde a simples recomendação de uso da máscara até programas que deem suporte financeiro aos informais e micro e pequenos empresários. Não se trata de medidas populistas ou fiscalmente irresponsáveis, mas de encarar a pandemia com a seriedade adequada, sem negacionismo quanto à gravidade com a qual o país ainda pode ter de lidar, com uma união entre os Poderes, na busca por melhores saídas.

As projeções dos analistas de mercado e de entidades empresariais apontam para uma retração do PIB neste começo de ano, com expansão de pouco mais de 3% em 2021 (o que na verdade se refere, basicamente, ao carregamento da expansão que houve, após o pior momento do ano passado). Expansão que sequer vai repor o que foi perdido. E se não corrermos com a vacinação, nem isso podemos alcançar. Do Congresso, vem uma preocupação e uma mobilização crescentes no sentido de acelerar a compra de mais vacinas, inclusive, com iniciativas de negociação direta com outros países, assim como estão fazendo os governadores.

Ou o país se mobiliza para a aquisição de insumos, medicamentos, vacinas, paralelamente à adoção de medidas para conter o contágio, ou a inédita crise sanitária que enfrentamos vai atingir estágio ainda mais dramático. E nesta semana em que, finalmente, o Congresso vai discutir o orçamento deste ano, é importante que se considere a necessidade de mais gastos, além do auxílio emergencial, como os empréstimos às micro e pequenas empresas, o programa de manutenção do emprego e da renda, o Refis e outras medidas de suporte financeiro para minimizar os impactos da pandemia sobre a economia. Exemplos do exterior, como Estados Unidos, Israel e a própria China, entre outros, mostram que, diante da catástrofe que atingiu o mundo, quem está controlado melhor a pandemia também consegue obter melhores resultados do ponto de vista econômico.

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