Felipe Moura Brasil: O establishment bolsonarista
A direita flaviana – ala dos bolsonaristas que ajudou a blindar Dias Toffoli contra a CPI da Lava Toga, fazendo campanha pela retirada de assinaturas de parlamentares do requerimento para criação da comissão e pelo esvaziamento de manifestações convocadas para pressionar o presidente do STF – não tem autoridade moral para criticar a decisão do Supremo de derrubar a prisão em segunda instância.
Toffoli colocou o governo e sua militância de gabinete no bolso ao suspender, durante plantão no recesso judiciário, a investigação sobre Flávio Bolsonaro pela suposta rachadinha em seu gabinete na Alerj.
Por pavor de ferir suscetibilidades do advogado do PT no STF, o presidente da República, que endossou a decisão de Toffoli, ainda excluiu de sua conta no Twitter uma postagem a favor da prisão em segunda instância feita no primeiro dia do julgamento do tema (e pela qual outro filho, Carlos Bolsonaro, chegou a pedir desculpas), e também outra postagem, que retratava o STF como uma hiena cercando o leão Jair Bolsonaro.
Foi um festival de amareladas indignos da firmeza bolsonarista, propagandeada durante a corrida eleitoral de 2018, no combate à impunidade. Reeditou-se até a narrativa petista que coloca a recuperação econômica acima da moralidade pública.
Sem o poder de polícia da CPI para obrigar o presidente do Supremo a se defender das acusações de ter cometido ilegalidades no inquérito igualmente ilegal que abriu para intimidar críticos, censurar veículos de comunicação e blindar ministros, com a complacência do novo procurador-geral da República, Augusto Aras, Toffoli pôde se dedicar exclusivamente ao plano de soltar Lula, executado sem maiores obstáculos.
A exemplo de Jair Bolsonaro, ao nomear dois líderes do Centrão para seu governo, a direita flaviana curvou-se ao establishment que finge combater. Nada mais natural que, quando descrita, acuse os outros daquilo que faz.
* Felipe Moura Brasil é diretor de Jornalismo da Jovem Pan.
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