Brasil se supera nas adversidades e mês de outubro deverá trazer mais volatilidade
Acho que manteremos esses dias de emoção e poucas notícias animadoras na economia
Estamos a dois dias do último trimestre desse ano, que boa parte do mundo só quer que acabe. E nessa toada, setembro teve um gosto amargo: muita volatilidade com decepções no cenário internacional. A segunda onda de contaminações de Covid-19 veio, sobretudo na Europa, minando expectativas de recuperação da economia e trazendo grande movimento de aversão ao risco. Afinal, se está ruim para eles, imagina para os meros emergentes? A taxa de câmbio disparou, as bolsas caíram e o risco país também começou a sentir os efeitos de uma nova avalanche de pessimismo. E, como cenário externo é soberano, encerraremos esse mês nada primaveril com o primeiro debate entre os principais presidenciáveis dos EUA. Biden e Trump se enfrentam hoje e os mercados ficarão na audiência esperando a partir desse evento uma tendência sobre o as eleições norte-americanas. Ora, me parece que um candidato democrata à frente da Casa Branca deve permitir evoluções nas conversas com a China. E quem ganharia nessa história somos nós, os emergentes, com espaço para diminuição de aversão ao risco. Mas… o oposto também é verdadeiro.
Contudo, hoje será só mais um (grande) passo da disputa presidencial; que deve gerar bastante volatilidade nos mercados até seu final em 03 de novembro. Ou seja, assim como setembro, outubro também promete ser um mês agitado. E, neste ambiente pitoresco, o Brasil se supera nas próprias adversidades. Ontem mesmo tivemos um dia ruim nos mercados após o governo sugerir o financiamento do novo programa social – Renda Cidadã – por meio de recursos do pagamento de precatórios (valores a serem pagos a justiça) e do Fundeb. Além de sugerir que, de fato, não temos fonte recursos, a discussão segue com ar de pedaladas fiscais, o que o passado já nos mostrou como insustentável.
Isso ocorre após uma pesquisa eleitoral mostrar que o percentual dos brasileiros que avaliam o governo como ótimo ou bom alcança 40%, maior patamar desde o início do mandato de Jair Bolsonaro. Vale ainda reforçar que a avaliação do governo melhorou principalmente entre os entrevistados com até 1 salário mínimo, ao passo que entre os que recebem mais de 5 salários mínimos houve aumento da insatisfação com o governo. Não preciso me alongar muito, certo?
Além disso, não esqueçamos que o tema “queimadas” ainda está em jogo, foi dada a largada na campanha eleitoral municipal e houve pouca evolução na reforma tributária. Uma melhora possível nesse quiproquó viria das vacinas: uma chancela de que os testes foram atingidos com sucesso e alguma vacina segue para aprovação de órgãos reguladores, como FDA e/ou ANVISA, daria um fôlego de fim da pandemia nos mercados. Fora, isso, meus amigos, acho que manteremos esses dias de emoção e poucas notícias animadoras. Quem mais quer que 2020 acabe? Eu quero.
*Fernanda Consorte é economista-chefe do Banco Ourinvest e escreve às terças-feiras.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.