Contas fiscais atrapalham os ganhos do mercado nesta terça

Solução ‘populista’ de seguir dando dinheiro sem contrapartida de cortes de gastos e investimentos não só vai piorar as expectativas de inflação como também vai postergar a decisão de novas contratações

  • Por Fernanda Consorte
  • 19/10/2021 13h39
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Arquivo/Agência Brasil Moedas espalhadas em cima de uma superfície de cor clara Incertezas sobre recursos para programas do governo pioram as expectativas do mercado

Percebam o que é ou está sendo Brasil. A percepção do dia era mais positiva para países emergentes, pois o cenário externo é de calmaria. Em dias assim, temos maior chance de apetite ao risco. Mesmo com o relatório do FMI revisando para baixo o crescimento das economias asiáticas, em especial a China, isso acabou sendo notícia de retrovisor, já incorporado em preços ao longo de setembro. De fato, um rápido olhar na tela de cotação, observamos valorização de moedas emergentes em relação ao dólar, sugerindo que, de fato, os investidores pensam em alocar um trocado nessas economias. Uma chance para adivinharem a exceção? Enquanto escrevo essa coluna, as taxas de câmbio de países emergentes caem em média 0,5%, mas o real sobe 0,9%! E notem que o Banco Central anunciou ontem leilão de até US$ 500 milhões em moeda à vista – o que não acontecia desde 15 de março.

Não sou vidente para dizer que o dia vai fechar com esse retrato, pois há muito a acontecer até as 18h, mas o que posso afirmar é que há meses, anos, o cenário doméstico tem falado mais alto na percepção de risco do Brasil. E tudo tem origem nas contas fiscais e na condução do governo atual. Sobre hoje, mas com origem antiga, o mercado começou a ficar desconfortável com a fala do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que em meio à indefinição sobre os rumos das políticas sociais do governo a meros 13 dias do fim do auxílio emergencial, disse que não se pode “pensar só em teto de gastos e responsabilidade fiscal” em detrimento da população, que tem sofrido com a disparada de preços e os efeitos econômicos e sociais da pandemia de Covid-19. Há uma verdade nesta frase de forma isolada? Sim. Mas a solução “populista” de seguir dando dinheiro sem contrapartida de cortes de gastos e investimentos não só vai piorar as expectativas de inflação como também vai postergar a decisão de novas contratações, de investimentos externos e por aí vai. Não é a solução. 

Mas, o rumor de hoje pela manhã era que a equipe econômica previa montantes ousados fora do teto de gastos para bancar os auxílios tem sido o estopim para nossos preços de mercados estarem tão fora do movimento dos nossos pares. Vale mencionar que diferente do auge da crise, hoje há liquidez no mercado mundial em abundância. Os fluxos financeiros mundiais já se recuperaram em 70% da crise, segundo a Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comercio e Desenvolvimento), contudo, o movimento está extremamente desigual entre países desenvolvidos e emergentes, pois a incerteza ainda é grande. Assim, países emergentes que ainda têm desafios e problemas internos gritantes como o Brasil acabam indo para o final da fila. Dureza.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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