Jogo de emoções e volatilidade nos mercados ainda não acabaram
Crise institucional deve continuar predominando sobre o comportamento da nossa moeda — e de todos os ativos brasileiros — no curto prazo
Quais emoções a mais têm por vir? Pensando que teremos eleições presidenciais após uma pandemia, eu não consigo dizer quais, mas elas acontecerão. Semana passada poderia ter sido um filme, afinal, nas manifestações de 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro ameaçou o Supremo Tribunal Federal (STF), em tom considerado antidemocrático por grande parte do mundo político, e teve de recuar da postura apenas 48 horas depois por meio de uma carta de pacificação articulada pelo ex-presidente Michel Temer após a resposta contundente do ministro do STF, Luiz Fux. Primeiramente, eu não contaria com a continuidade desse tom pacificador por parte de Bolsonaro. Mesmo que diante da força de nossa democracia e instituições, ainda assim, a retórica do governo é forte o suficiente para sacudir os mercados quando inflamados.
Em segundo lugar, a conjuntura econômica tem piorado muito. Até poucos meses, se elogiava a atividade econômica e sua recuperação, que de pujante não tem muito, afinal as projeções e expectativas do mercado começaram a ser revistas para baixo constantemente. A ideia geral é que o crescimento de 2021 será alto (cerca de 5%), mas por uma base muito baixa, enquanto para 2022 espera-se o nosso, que já se tornou quase tradicional, crescimento de 1,5% a 2,0%. A inflação nem se fala, já que esperamos que seja de dois dígitos. Também na semana passada, o IBGE divulgou o IPCA de agosto, que registrou variação de 0,87% no mês, acima do teto das projeções de mercado (que era de 0,85%) e acumulou alta de 9,68% nos últimos 12 meses. Apesar da pressão inflacionária estar mais concentrada nos preços administrados, como energia elétrica (por causa da crise hídrica e bandeira vermelha) e combustíveis, o aumento disseminado nos demais grupos continua a ser observado, com destaque para alimentação e bebidas e preços dos serviços.
Ou seja, o aumento da inflação vai continuar sendo motivo de preocupação para o Banco Central e eventual alta no ritmo de ajuste da taxa de juros. Aliás, aqui vale o terceiro ponto. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, segue enfático que levará a taxa Selic aonde for necessário para conter inflação. E, meus amigos, em pouco tempo falaremos de taxa Selic de dois dígitos, aguardem. E como o mercado deveria se posicionar? Bom… vale mencionar que, mesmo quem se beneficiaria de um aumento de juros, pensando em queda da taxa de câmbio, desta vez pode ser diferente. A crise institucional deve continuar predominando sobre o comportamento da nossa moeda (e de todos os ativos brasileiros) no curto prazo. Aviso, o jogo de emoções (ou volatilidade nos mercados) ainda não acabou.
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