Onda de otimismo no mercado financeiro, mas até quando?

Faz sentido surfarmos na onda do otimismo da mudança de governo dos EUA; porém, em poucas semanas, a conta (alta) das condições locais podem e devem chegar

  • Por Fernanda Consorte
  • 10/11/2020 14h08 - Atualizado em 10/11/2020 14h10
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Pixabay Principais indicadores do mercado financeiro brasileiro fecharam a semana no campo positivo com o bom humor dos investidores internacionais Taxa de câmbio baixou mais de 40 centavos em uma semana e a bolsa de valores aumentou mais de 4 mil pontos nesse período

Eu trabalho em mercado financeiro há mais de 15 anos. E essa história que mercado antecipa movimento da economia real, ou seja, os preços de ativos sempre estão mostrando as expectativas adiante e não a situação atual, sempre me causou sentimentos controversos. Pois vejam, a taxa de câmbio baixou mais de 40 centavos em uma semana e a bolsa de valores aumentou mais de 4 mil pontos nesse período, antecipando e observando a guinada importante da condução da política econômica norte-americana, que claramente impactará todo o mundo. Concordo que foi uma excelente notícia, digna de comemoração. Contudo, o novo presidente tomará posse em meados de janeiro/2021, e por aqui ainda temos tantos obstáculos a enfrentar. 

Primeiramente, o nosso governo ainda é o mesmo, e seguirá ao menos até final de 2022. Em segundo lugar, a pandemia não acabou, e acordamos com a notícia de que a vacina já em produção no Instituto Butantan sofreu suspensão (temporária?) da Anvisa, e com “comemoração” do nosso presidente por isso. Isso por si só é uma loucura, difícil de atribuir outros adjetivos mais polidos. Lembrando que a segunda onda de contágio já está acontecendo na Europa e, olhando o passado recente, se nada ocorrer na ciência, em cerca de 2 meses ela chega aqui. 

Em terceiro lugar, o Congresso está mais lento em suas decisões, possivelmente devido aos esforços concentrados dos partidos nas eleições municipais, cujo primeiro turno ocorre no próximo domingo. Assim, a agenda parlamentar que passaria por votação de MPs, cabotagem, lei do gás, e nada menos que o orçamento 2021, está paralisada. Vou repetir: o orçamento fiscal para 2021 ainda não foi votado e ainda não foi criada a comissão mista para essa tarefa, e estamos em meados de novembro. E tem eleições municipais por todo esse mês. 

Ou seja, enquanto agente de mercado financeiro e consumidor desses investimentos, faz sentido surfarmos na onda do otimismo da mudança de governo dos EUA. Porém, em poucas semanas, a conta (alta) das condições locais podem e devem chegar. Ainda mais que lidamos com temperamentos instáveis. Termino aqui meu texto, com uma frase de Machado de Assis, em O Alienista, obra que, por sinal, foi escrita em 1882 e segue atual no Brasil de 2020: “…se tantos homens em que supomos juiz são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?”

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