Os números não mentem: clima está pesado no país

O ano de 2020 terminou com alta taxa de desemprego, PIB negativo e outros fatores; 2021 já tem problemas com a vacina contra a Covid-19

  • Por Fernanda Consorte
  • 19/01/2021 12h39
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FABRÍCIO COSTA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Pessoas andando na rua de máscara em Santos Impactos econômicos e sociais da pandemia devem impactar gerações de brasileiros

O clima pesou para o governo nas últimas semanas. Não é para menos. Encerramos 2020 com um PIB negativo em torno de 4 a 5%, a taxa de desemprego beliscando os 20% (lembrem-se da conta dos desalentados), a inflação pesando e muito na mesa do brasileiro, e a pandemia segue piorando a passos largos. Veja, falamos de isolamento social desde abril de 2020 – a população está cansada. Seus impactos econômicos e sociais estão sendo colossais e terão consequências possivelmente geracionais, sobretudo quando pensamos em educação. Até meados de outubro, crianças da América Latina perderam cerca de 170 dias de aulas, o que foi quatro – QUATRO – vezes maior que a média mundial. Além disso, há os impactos psicológicos – esses talvez imensuráveis – de se ficar em casa, com medo, por tanto tempo. 

A América Latina foi uma das regiões mundiais mais afetadas pela Covid-19. Segundo recente levantamento da OMS, 30% das mortes estão na conta dessa região do mundo, e claro, o Brasil tem a medalha de prata de maior número de casos e mortes, e o México com o quarto lugar. Claro que olhando por região, sabemos que a América Latina não dispõe de riquezas sociais explícitas e tem muitos problemas sanitários que facilitam o espalhamento da doença; mas, nessa ótica, a região da África subsariana, por exemplo, mais pobre nessa comparação, tem sofrido menos com a doença (saúde e economia) do que nós, latinos. Segundo o FMI, enquanto espera-se um encolhimento da 8% da econômica latino-americana, na África subsaariana a expectativa é de -3%. 

Em que pese ajustes nessa comparação, ainda assim, ilustro essas regiões para falar que eu acho que a diferença, o que nos trouxe tão para baixo nesta pandemia foi justamente a condução política do tema. Verdade que muitos líderes latino-americanos, como na Argentina, Chile e Peru, foram rápidos em fechar fronteiras e impor bloqueios nacionais, e os presidentes dos dois maiores países foram indiferentes. E aqui falo do Brasil e do México, que por coincidência ou não, lideram o ranking mencionado acima. E daí, meus colegas, acredito que esta conta está chegando. Após passarmos por tudo, chegar em 2021 com muito medo da doença é bastante intimidador. Pensar na possibilidade real de mais isolamento social causa náuseas. Com a “pá de cal” da triste e inadmissível situação de Manaus

Por isso, a vacina veio como um pote de esperança; e ignorá-la, minimizá-la ou politizá-la caiu como uma bomba nos ouvidos dos brasileiros. Até os mais conservadores pararam alguns minutos para refletir sobre suas escolhas, tenho certeza disso. A consequência disso foi a primeira queda em meses da avaliação positiva do presidente Jair Bolsonaro. Segundo a pesquisa de uma grande instituição financeira, a avaliação “ruim/péssimo” ultrapassou a avaliação “ótimo e bom” pela primeira vez desde julho. Essa queda da avaliação positiva foi generalizada entres as regiões do Brasil, mas com foco no Norte (por que será?). E o aumento do ruim/péssimo foi muito forte no Sudeste entre os adultos de 35 a 54 anos. Claro que o contra-argumento é que se trata de um ponto só, temos de esperar os próximos meses para ver o andamento da vacina versus a pandemia. Mas o clima ficou mais fechado para o governo. Eu começaria a me incomodar se estivesse em seus sapatos, e vocês?

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